quarta-feira, 12 de junho de 2013

A VER AS HORAS


Parecia que o sol lhe andava nas mãos!
 
Um sol que ela tinha o condão de o poder ligar e desligar. Bastava que carregasse no botão que tinha de lado e o farol, enorme, ora acendia iluminando tudo o que lhe estava pela frente, ora se apagava transformando aquela sala sombria numa noite escura, apenas iluminada por uma espécie de luar.
 
E foi, no meio daquela brincadeira, de fazer de noite e de fazer de dia, que descobriu aquele relógio de sol em cima de uma coluna de mármore frio. Era um relógio velho, coberto de pó, provavelmente cheio de histórias para contar, apreendidas durante o tempo em que via as horas a passar. Agora, pensou ela, talvez estivesse avariado, depois de tanto tempo parado, sem luz e naquele lugar fechado. E, quando o iluminou, com o sol que  na sua mão trazia, verificou que a sombra das horas não se deslocava como a dos outros relógios de sol que por lá fora via, em que a sombra estava sempre tão quieta, que quase parada parecia. A deste relógio, tanto punha a sombra do ponteiro no meio-dia como, num repente, fugia para um lado ou para o outro ou, simplesmente, desaparecia... tudo como num passe de magia! Ora fazia manhã àquela hora do dia ou, então, carregando no tal botão em que a luz desaparecia, o relógio parava, deixava de ter sombra e, portanto, de ter horas e o tempo não havia. Voltava, de novo, a ligar o botão e, se ainda  agora era meio dia, já logo, daquele lado, o sol fazia uma sombra que apontava para o findar do dia!
 
E, enquanto, naquele quarto escuro a  luz ora se apagava, ora se acendia, lá fora, também, o sol ora se findava, ora aparecia. E se a luz do foco iluminava o relógio de modo a dar a sombra ao meio-dia, lá fora, o Sol, também, ficava a pico deixando tudo sem sombras e um calor em demasia.
 
Até que a carga da bateria se acabou e a luz daquela lanterna, definitivamente, se apagou... era o fim da tarde e o dia anoitecia. E a menina deixou-se adormecer, depois de tanta folia...
 
E tudo voltou à paz, as horas voltaram a passar em harmonia, primeiro a manhã, depois o meio-dia e a tarde a ser lá mais para o final do dia...
 
 
 
 

(DO AUTOR - COLECÇÃO BERARDO - ART DÉCO - CALHETA - MADEIRA)

3 comentários:

Anónimo disse...

Que bela prosa poética! Beijinhos, Lola

Anónimo disse...

Gostei imenso
Ivone Oliveira

Anónimo disse...

Que sorte tem essa menina por poder mandar no Tempo.

Ana Lacerda