Fazia anos que não tinha freiras, nem nas mãos nem no nariz.
Este frio brusco, seco, fez com que elas aparecessem de novo: as mãos a ficarem inchadas, com um tom mais avermelhado, ásperas, os dedos e o dorso secos, quase doridos, com gretas minúsculas, o nariz de ponta vermelha, com um pingo persistente, frio - gelado! -, quase insensível.
Já nem se lembrava! Mas hoje apareceram, e fizeram-lhe vir à memória os invernos frios em que as frieiras eram uma constante: a dificuldade em pegar na caneta para escrever a cópia ou o ditado, o berlinde que se escapava das mãos por causa do frio e dos dedos com menos sensibilidade, as luvas de lã, tricotadas pela avó, já cheias de buracos, as mãos a aquecerem-se na lareira, o creme gordo com que a mãe lhe besuntava as mãos, o ardor áspero...
Era um frio horrível, seco, cheio de vento, que cortava como lâmina de faca...
Hoje o dia foi quase assim! Deu para recordar, para besuntar as mãos de creme hidratante e para ficar quieto, sentado no sofá castanho, diante da lareira, a escutar o frio que lhe batia na porta das recordações.
4 comentários:
Comovido testemunho! Beijinhos, lola
Lembro-me bem de ver as crianças cheias de frieiras. eu acho que só as tive na alma.
Beijos
Berta
Para completar o "quadro" só faltou mesmo as luvas de lã tricotadas pela avó.
Gostei deste testemunho.
Lindo!
Beijo
Nunca tive, por sorte! E o que se faz, doutor???
Abraço
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