sábado, 9 de julho de 2011

A ESPALAMACA

O nome ficou-lhe sempre na memória: ESPALAMACA. 

Era um nome estranho, o nome de uma ponta de terra sobre o mar, logo à saída norte da Horta, e antes de se chegar à Praia do Almoxarife.

Mas era também o nome de uma embarcação de madeira, a lancha ESPALAMACA, que fazia a ligação entre as ilhas, do Faial e do Pico, entre o porto da Horta e o cais da Madalena do Pico, e também a ilha de São Jorge. Tinha 17 metros de comprimento por 4 de largura e levava, com bom tempo, 100 passageiros e, nas alturas de mau tempo no canal, o número de passageiros era reduzido para 75. A tripulação, essa, era sempre de 4 homens.

Havia uma outra lancha de passageiros, essa mais pequena, a CALHETA, que também, fazia a ligação entre as ilhas.

Tinha feito duas travessias na ESPALAMACA, já lá vão uns quase 30 anos; o tempo de atravessamento do canal, nessa altura, era demorado, quase sempre balanceado por uma vaga de través que fazia nausear algumas pessoas, em particular junto aos dois ilhéus, o de Pé e o Deitado, na aproximação da Madalena do Pico. No interior da embarcação havia baldes para aqueles que não aguentassem o balanço atravessado daquela ondulação, e pudessem libertar, à vontade, o conteúdo dos seus estômagos.

Claro que os tempos de agora exigem modernidade, pedem melhores barcos, mais rápidos, mais seguros, maiores e mais confortáveis e, hoje em dia, a travessia faz-se em boas condições e em tempo razoável. Até os nomes dos barcos, agora, são mais atuais, mais fáceis e confortáveis de dizer: CRUZEIRO DO CANAL, EXPRESSO DAS ILHAS. Nada de Espalamaca, Calheta ou Picaroto, a barcaça de transporte de carga entre as ilhas do canal.

Só quando faz "mau tempo no canal" é que a travessia se faz de forma mais batida, mais agitada, em particular quando no desembarque na Madalena.

Hoje resolveu ir até ao Pico e, à saída do cais, deu de caras com a ESPALAMACA, não como a gostaria de a ver, bem arranjada, como peça de museu, como parte importante da história das ilhas do triângulo e das suas gentes, muitas vezes, nos maus invernos, como o único elemento de ligação entre as ilhas, mas estava no cais, em doca seca, apoiada em toros de madeira, aprumada como sempre a viu, mas de madeiras apodrecidas, esquecida no meio de outros barcos, também velhos e abandonados. Também a CALHETA e PICAROTO por ali estavam, também abandonados e esquecidos.

(A ESPALAMACA - Porto da Madalena do Pico - 9/7/2011)

Faz pena ver, assim, abandonada, deitada para o lixo, parte da história deste arquipélago, da história das travessias, das gentes e do "mau tempo no canal"...

São, outra vez, os homens a terem a memória curta, a esquecerem a história do seu próprio povo...

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou da Vila da Madalena e digo, fico com uma tristeza enorme, quando passo pelo porto da Madalena e vejo esta embarcação que, por tanto passou, assim esquecida.
Neste momento quem será o proprietário da Espalamaca será que me pode informar?
Muito obrigado