Cada vez tem menos importância.
O que recebemos pelo correio são jornais e revistas que assinamos ou nos enviam, mesmo sem querermos, são as contas da EDP, do Gás, da Água, da TV por cabo, do Telefone e da Internet, são os avisos para pagar as despesas dos cartões de crédito e, também, o sempre temido talão das Finanças para pagar os impostos que nos taxam e atarraxam, cada vez mais, a nossa existência. Tudo feito num computador, impresso numa dessas maquinas a laser, tudo feito de forma totalmente impessoal.
Mas cartas, daquelas escritas à mão, de preferência com caneta de aparo, já é raro, cada vez mais raro. Uma vez por outra lá se recebe um postal de viagem de alguém que se lembra de nós e nos inveja com as vistas e as palavras escritas por detrás da fotografia: "Aqui tudo é lindo, o mar maravilhoso, as paisagens de encantar..." enquanto estamos a trabalhar, afogueados de trabalho e de imenso calor.
Mas nada que se pareça com uma carta escrita à mão... aquele papel espesso e levemente rugoso, a caneta de tinta permanente, de caligrafia grossa, a mão a escorrer suavemente sobre uma linha imaginária, a escrever o que vai na alma, no coração, ou na razão. Depois a assinatura, assinada mesmo, não digitalizada, o fechar do sobrescrito molhando aquela cola pré-colocada, o escrever do endereço, não esquecendo o código postal, o colocar o remetente e, finalmente, o colar do selo. Todo um ritual que se vai perdendo e que nunca deixa de ser, quase, um acto de amor.
Há um ainda, é que a carta precisa de ser colocada no marco do Correio, daqueles vermelhos que, cada vez se vão vendo menos por aí...
(Marco do Correio - Horta - Ilha do Faial - Julho de 2011) |
Lá tem a hora do expediente para se saber se a carta ainda segue no próprio dia ou só segue no seguinte, e tem, no alto, a ranhura para colocar a correspondência.
Correspondência... uma palavra bonita, atilada, amistosa, de relacionamento, de ligação... que foi perdendo o romantismo que lhe estava associado para se transformar, cada vez mais, num termo de ligação de meios de transporte público.
Agora, quando se fala em Correspondência já não se pergunta pelo preço do selo, mas antes sobre o custo do bilhete. Novos tempos!
1 comentário:
Às vezes, no papel, também vinha o cheiro do perfume de quem a escrevera.
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