Agora já não se vê por aí.
Quem sabe o que é, e quem se lembra, lembra-se da garrafa, lembra-se da bola a servir de tampa, lembra-se de o ter de se carregar na bola para dentro do frasco, para se poder beber o conteúdo, e lembra-se da gasosa com sabor a limão.
(foto do autor ) |
O pirolito era um refresco popular, barato, uma gasosa contida numa garrafa de vidro com um formato especial, tão ou mais especial e carismático do que é, actualmente, a garrafa da Coca Cola.
Não tinha rótulo, nem marca, o vidro era transparente, de uma cor levemente esverdeada, e não tinha tampa, daquelas tipo carica metálica dos refrigerantes com gás e das cervejas de hoje. E também não tinha a composição, nem as calorias e, muito menos, prazo de validade.
(foto do autor) |
E, que se saiba, ninguém morreu por beber um pirolito de bola!
Como se disse, em vez de tampa tinha uma bola de vidro, um berlinde que, empurrado de baixo para cima, por força da pressão do gás, se encostava a uma anilha de borracha junto ao gargalo, vedando eficazmente a dita garrafa.
Especial era, ainda, a forma deste vasilhame, fabricado em vidro. A sua forma distinguia-se por um estrangulamento abaixo do gargalo que impedia o berlinde, que servia de tampa, de cair para o fundo, ficando ali a badalar, numa sonoridade de vidro, inesquecível, sempre que era agitada, um gesto quase automático e que nunca se deixava de repetir.
O berlinde era introduzido no gargalo da garrafa, quando o vidro, ainda quente, se podia moldar. E ficava preso no gargalo, que tinha o tal estrangulamento. Só depois se afunilava o gargalo, deixando prisioneira aquela bolinha de vidro baço. No topo fazia-se um entalhe circular no interior do qual se colocava uma anilha de borracha que ia servir, juntamente com a bola do pirolito, de vedante.
Depois, já na fábrica do refrigerante, a gasosa era introduzida na garrafa virada de boca para baixo e, uma vez concluído o enchimento, o berlinde caía, aderindo à anilha, por efeito da pressão do gás.
Podia-se, finalmente, endireitar a garrafa, que ficava, à vista nos escaparates das pastelarias ou metida em baldes com gelo para ser servida bastante fria - nessa altura ainda não havia as montras-frigoríficas e o gelo que, a maior parte das vezes, vinha das fábricas de gelo.
Sempre que uma destas garrafas se quebrava, e quebravam-se muitas vezes propositadamente, aproveitava-se o berlinde para jogar um jogo praticado no chão, em terra batida, onde se faziam três covas.
Era o Jogo do Berlinde. Um jogo que vinha de gerações anteriores, hoje quase esquecido, e que entretinha, horas e horas a fio, a juventude daqueles tempos.
Era o Jogo do Berlinde. Um jogo que vinha de gerações anteriores, hoje quase esquecido, e que entretinha, horas e horas a fio, a juventude daqueles tempos.
Pode ser que um dia se fale do Jogo do Berlinde, dos ditos berlindes e dos abafadores...
11 comentários:
Que garrafa bonita. Ouvi falar muitas vezes no pirolito.
Viva Raúl,
Há muitos anos, os meus tios tinham um gato de que eu gostava especialmente e que se chamava "pirolito" - hoje, para explicar à minha esposa o significado do nome vim parar ao Bloggetrotter.
E obrigado pelas fotos (ainda tenho em casa da minha mãe muitos destes berlindes!).
Um abraço transatlântico,
Rui
Caro Amaral Marques
É a primeira vez que visito o seu blogue e fiquei muito satisfeito com o seu desenvolvimento sobre o "PIROLITO", os meus parabéns!
Tomei a liberdade de fazer um link para este artigo, porque estou a escrever sobre a «CALÇADA DAS LAJES» onde vamos encontrar a «QUINTA DO MANIQUE» que no segundo quartel do século XX, foi comprada pela firma que introduziu em Portugal o "PIROLITO", trata-se da «G.H.HALL,LDA», e vou referir-me ao famoso "PIROLITO" (Já desaparecido).
Os meus cumprimentos
APS
Conheci muito bem o pirolito e como eu preferia-o a qualquer outra bebida, alem disso estava sempre na esperança que a garrafa se partisse. Não me atrevia a parti-la propositadamente para lhe sacar o berlinde e também me lembro da força incrível que era necessário fazer para empurrar o berlinde para baixo.
Era no tempo da escola primária entre os sete e os dez anos, memórias que nunca se esquecem.
muito obrigado por as trazer a lume.
Que saudades do pirolito.Eu so comprava por causa do Berlinde:)
Meu caro APS. Creia que essa não foi a primeira fábrica de Pirolitos em Portugal. A primeira foi na Madeira em 1875, muito anterior à fàbrica de G.H.Hall e em Portugal continental muitas outras houve, embora a de Hall tivesse sido muito importante, sem dúvida.
Mas vieram os brasileiros e estragaram tudo! Pirolito no Brasileiro é um chupa-chupa...
Lembro-me perfeitamente desta bebida, mas não com o nome de pirolito. Era outro que lamentávelmente não recordo
Pirulito com U ----- Chupa-chupa
Pirolito com O ----- Bebida gaseificada.
Os pirulitos não têm origem brasileira, mas sim portuguesa ( Minho e Trás-os-Montes )e a sua antiguidade é muito anterior ao século XIX.
Tenho umas garrafas de pirolito com fundo em bico em vez de achatado, não sei a origem nem a razão de ser do formato.
Existe um bar de tapas and wine em castelo de vide exatamente no mesmo local onde a fabrica do pirolito era realizado. A vizitar muito bom.
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