terça-feira, 3 de maio de 2011

AS AVENCAS

Hoje lembrei-me da Tia Elisa, da Quinta do Moinho de Vento, da Ifigénia e das avencas que ela tinha na varanda envidraçada da casa.

É isso, a vantagem de se ter memória, mas não só! De se terem, sobretudo, recordações e vivências.

A tia Elisa, que tratava toda a gente por menina ou menino, consoante o sexo, e que tanto poderiam ser jovens como idosos, era uma pessoa muito especial. Solteira convicta - acho que nunca teria paciência para aturar um homem a seu lado - era de uma simpatia enorme e irradiava imensa alegria, principalmente quando alguém aparecia na sua casa do Moinho de Vento.

E então em Setembro, quando aparecíamos todos, os tios e primos a encherem a casa, era uma alegria! 

Chegada a hora do lanche era vê-las, a tia Elisa e a Ifigénia, a cobrirem a mesa da sala de jantar com pratos cheios de sanduíches de queijo ou fiambre, fatias de pão para barrar com compotas de frutas caseiras, mais os bolinhos de canela, as areias e o sempre esperado refresco  de capilé.

Preparado por ela, e pela sua sempre fiel Ifigénia, o refresco era feito do xarope de capilé a partir das avencas que ela tinha lá na varanda. Se bem me recordo  o xarope de capilé era feito com as folhas da avenca e com um toque de água natural de flor de laranjeira. Diluía-se com água obtendo-se um refresco ligeiramente doce, subtilmente perfumado, muitíssimo refrescante. Servia-se em copos altos, com gelo e uma casca de limão. Os mais gulosos gostavam de juntar uma colher de açúcar amarelo.



Agora acho que já sei porque me lembrei da tia Elisa e das avencas! Foi por andar com tosse há uns dias e por me lembrar da velha receita que a minha avó usava para tratar as tosses mais irritantes e persistentes: preparava, habitualmente, uma infusão com as folhas das avencas e tinha sempre xarope de avenca. A infusão era bebida quente e também aplicada no peito usando um pano embebido do que restava no fundo do bule. O xarope era tomado às colheres de sobremesa e deixava-se a escorregar pela garganta. 

E não é que resultava?

Mas, se foi pela tosse ou não, não interessa muito, o bom foi recordar a Tia Elisa, a Ifigénia e aquela varanda envidraçada repleta da vasos com avencas!


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