A manhã enevoada e sem vento pedia um passeio junto à foz do rio.
A meio do percurso começou com a vaga sensação de que estava a ser seguido.
Olhou para trás e viu-o.
Ele, de imediato, voltou-lhe costas e afastou-se.
Mais uns passos e a mesma coisa.
A cena a repetir-se de cada vez.
Era um cão magro, preto, elegante e bonito, mas de pêlo mal cuidado e de barba mal aparada. As costelas desenhavam-se bem naquele tórax emagrecido.
Devia ter tido um dono. Sentiu que era um cão que tinha sido educado, mas que deve ter sido rejeitado, ou abandonado... ou qualquer outra coisa.
Tinha um ar triste e receoso, como que assustado, e manifestava apreensão sempre que o olhava... mas o olhar era um olhar doce!
Sentou-se num banco e ele também se quedou. Ficaram ambos a olhar-se, o cão amedrontado, expectante, atento... e ele a chamá-lo, a incitá-lo a aproximar-se.
Que pena não ter nada consigo, uma bolacha, sequer... mas não tinha, ali, nada para lhe dar, a não ser o afecto que sentiu por aquele animal.
Chamou-o por várias vezes e ele a ficar-se parado a olhar, quieto, olhos ansiosos, a uma distância de segurança que nunca quis diminuir.
Tirou-lhe uma, duas, três fotografias...
(Caminha - passeio da foz - 21 de Maio de 2011) |
E sem mais, virou-lhe o rabo, abanou a cauda, e partiu num elegante trote canino atrás de uma gaivota que andava, por ali, a bicar no lodo fresco que a maré vazante deixou a descoberto!
4 comentários:
Muito bom o texto! Suave... doce... com muita emoção.
Bjs
Ana Hertz
Percebi porque adoro cães...
Que raiva me dão as pessoas que abandonam e maltratam os animais!! Gosto muito de cães e, muitas vezes, são só QUEM fica quando todos partem...
Os cães estão e ficam,Incondicionalmente...e reconhecem quem gosta deles no primeiro instante...
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