segunda-feira, 18 de novembro de 2013

HORAS INVERSAS


Era um relógio especial... diferente dos outros... quem olhasse para ele, quem lhe ficasse a ver as horas, não envelhecia... Diziam!

Tinha um mostrador de onde sobressaía, no seu centro, um círculo azul a representar o universo. Por fora, em coroa circular, dispunham-se as horas anotadas em numeração romana... E eram XXIIII e não XII... 

Bem no centro de tudo, o Sol a lançar os seus raios de luz... com um dos raios, mais comprido que os outros, a servir de fiel... a apontar as horas à medida que o tempo decorria...

Mas, como naquele relógio o tempo era apontado em função do movimento aparente do Sol, as horas iam passando ao contrário e o ponteiro, o tal feito de um raio luminoso, ia girando no sentido directo, em oposição ao sentido retrógrado dos ponteiros de um relógio mecânico.

Como se, neste relógio, o tempo girasse ao contrário... a seguir à noite, o lusco-fusco aparecia, depois era a tarde, que nunca escurecia, bem pelo contrário... levava o tempo até ao meio-dia... depois seguia-se a manhã, até que chegava o amanhecer... e, depois, a noite em que tudo adormecia... 

E, a cada volta completa era como se fosse um dia a menos que se tinha... como se a vida se fosse encurtando, sem envelhecer... bem pelo contrário, até rejuvenescia...

Atraídos por essa fama da magia, à sua volta só havia gente velha cheia de esperança de voltar aos seus tempos de criança... E, a verdade é que, sempre que olhavam o relógio, a idade regredia na exacta medida do tempo em que o olhar decorria... mas, se tiravam os olhos do mostrador, voltavam à idade que, então, tinham...

Demorou tempo até entenderem que olhar para aquele relógio era uma ilusão... só porque o ponteiro andava para trás, pensavam que rejuvenesciam... 

A verdade é que o tempo segue... sempre do mesmo modo... do princípio para o fim... da manhã para a tarde... do ontem para o amanhã... sem horas inversas, ou relógios que se atrasam ou que se deixam parar...



(DO AUTOR - RELÓGIO INVERSO - FLORENÇA)

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu não gostava que o tempo andasse para trás.

Ana Lacerda

Anónimo disse...

Bela descrição de um relógio invulgar que até alimenta esperanças, vende ilusões...
Maria Luísa Silva

dandomaispalpites disse...

Adorei o texto... para refletirmos...