quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A LIÇÃO



Empurrou a manete para diante, deu a força máxima ao motor e o barco começou a avançar determinado com o cabo a esticar-se. Na outra ponta, quase submersa, apenas com a cabeça e a pontas dos esquis de fora, numa posição encolhida, quase fetal, ela aguardava, com os braços flectidos, que a pega, que as suas mãos agarravam firmemente, a traccionasse e a fizesse levantar e deslizar sobre as águas que, naquele lugar, quase pareciam um espelho.

"Não deixes esticar os braços, mantém-nos flectidos, não deixes o corpo vir para a frente em demasia, nem o deixes ficar para trás..." 

Estava ali tudo presente, todos os "não deixes" que lhe tinham ensinado e, aparentemente, gritavam agora do barco lá na frente. Mas ela não ouvia nada, tal era o barulho do motor, o ruído das águas que ela rasgava com os esquis e o corpo ainda meio submerso... apenas a determinação de se levantar e deslizar, finalmente, sobre as águas lisas que aquela extensão de água apetecia...

Mas, sempre que se levantava, caía. Primeiro para a frente, depois para trás... E, de cada vez, o ritual de abrandar a marcha do barco, descrever a curva de modo a deixar a pega do cabo junto dela, alinhar as posições, novo arranque, novo puxar e nova tentativa de a levar a sair da água...

E já com o sol quase a desaparecer num lusco-fusco mágico de cor e de sombras, numa derradeira tentativa, consegue emergir das águas deixando-se levar num passeio deslizante sobre as águas daquele mar chão! 

Afinal, parece que tinha aprendido a lição!

(DO AUTOR - APRENDENDO A ESQUIAR EM PLENA FOZ DO ARADE)


2 comentários:

MJ FALCÃO disse...

Nada como a persistência em aprender... e o mestre, claro.
Abraço!!!

Anónimo disse...

Aprender é assim: - Dá trabalho e é difícil! Mas é bom quando resulta. Pior é aprender a viver...

Ana Lacerda