terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

OARISTO



Passam horas a fio nisto, olhando-se de frente, olhos nos olhos, a imitarem-se... se um levanta a cabeça a outra também o faz... se uma roda a cabeça para um lado o outro faz o mesmo...

Como se, entre os dois, houvesse um espelho e a  imagem de cada um se estivesse a reflectir no outro...

Ele, o preto, o Ouriço, é o gato, o dono do lugar.

Ela, a listrada, sem nome, apareceu por acaso... atraída pelo encanto do negro? ou rendida ao prato, certo, de comida?

Houve uma, antes desta, chamada Castanha, que lhe deu filhos facilmente... E, talvez porque tudo aconteceu facilmente, não houve necessidade de grandes namoros, de seduções, de ritos ou de simbolismos...

A listrada, não! Quer ser seduzida, quer ser bem namorada... adora ser cortejada... suspira de desejo, espreguiça-se de consolo mas, não mais do que isso! Até agora, filhos?, nada!

O Ouriço olha-a e, de vez em quando, agita lentamente a cauda e ela, numa simetria de movimentos, imita-o, ele mexe a pata de uma maneira quase imperceptível e ela, quase no mesmo segundo, repete o gesto...

São dias nisto, num silêncio de gestos, de simetrias... mas hoje, diante do prato da comida deliciosamente cheio, os gestos confundiram-se com miados suaves, com murmúrios sufocados, com ronronares cantados, como uma conversa a dois, num diálogo de amor... um verdadeiro oaristo!



(DO AUTOR - O GATO PRETO E A GATA LISTRADA)


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