sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

DIÁLOGOS IMAGINÁRIOS À VOLTA DA LUA


ELA: Pois é! Enquanto um está acordado o outro dorme, até parece que estamos a guardar o mundo!
ELE: Quem sabe não somos os guardiões do Templo? O Sol e a Lua?
ELA: Bela poesia. Vale a pena ter essa visão da vida. Desejar ver além do que os nossos olhos nos permitem ver. Pode-se até dizer, que pessoas assim podem passar por uma floresta e ver mais do que madeira para ser queimada!
ELE: Acho que vemos e sentimos as coisas de modo diferente dos outros... encaramos a vida com a mesma realidade, mas sabemos colocar um pouco mais de poesia, romantismo, encantamento e mistério naquilo que nos rodeia, naquilo que vemos, naquilo que imaginamos...
ELA: Eu desejei saber qual seria a tua resposta... e não foi diferente do que eu esperava...
ELE: Penso que aprendemos a burlar a superficialidade do que nos cerca.

*****

ELA: Dizem que entre duas notas musicais existe uma outra nota musical, que entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam, existe um outro grão de areia...
ELE: Espero apenas que, entre duas pessoas que se amam não exista, nunca, uma terceira pelo meio.
ELA: Todos os dias olho o céu, especialmente à noite. Na minha casa há um espaço onde tenho uma cadeira de praia e é para lá que vou e por lá fico olhando o céu. Eu sempre fui uma observadora da lua, das estrelas...
ELE: Estou olhando a lua quase cheia e você veio-me ao pensamento... A fazer o mesmo desse lado?
ELA: Sim, eu também estive a olhar a lua. Quando era criança diziam-me que havia um São Jorge que morava por lá... talvez fosse por isso que eu estava sempre a olhá-la. O tempo passou e eu descobri que não era verdade, mas eu descobri o que era essencial: observar a natureza e aprender com ela. Pasme, eu não uso relógio mas sei-me situar, quase sempre, dentro do tempo; sei quando vai chover. É verdade! Observo a altura das nuvens e a cor que elas trazem... o vento, a temperatura... Os indícios... que nos apontam direcções. É preciso saber ler os sinais que a natureza nos aponta. Porque é que você disse que esteve a olhar a lua e a pensar em mim? Feche os olhos que lá vai um beijo.
ELE: Porque penso, porque acho existir cumplicidade de pensamentos, semelhanças no modo como olhamos e interpretamos a natureza e porque a lua é magia para mim... como para você!
ELA: Diz-se que a lua é mentirosa, que se esconde nas diferentes faces e, quando tem o formato de um D, de diminuindo, ela está, na realidade, a crescer...
ELE: Mas LUA é LUA! apesar de satélite sem categoria de planeta, apesar de não ter luz própria como as estrelas - como o SOL! -, a verdade é ela que encanta... e tem mais essa curiosidade desse seu São Jorge escondido nela.

*****

ELE: Hoje, dia 29 de Janeiro, nesta noite de sexta-feira, a lua está gorda, grávida de luminosidade, cheia de humor e plena de sorrisos a sorrir para mim. Quem sabe se o São Jorge ou o velho com o saco às costas não te entregam os sorrisos que te estou a enviar daqui?
ELA: É verdade, a lua já está bem grávida! Eu reparei nela esta noite quando ia a caminho de casa... lá looooonge... a espelhar as águas do mar! E eu estava mesmo a pensar em ti. Tão estranho e já tão conhecido... tão distante e tão próximo... Repara como a vida é mágica!
Repara que no tempo há tempo para tudo, até para que os tempos se reencontrem...
Certamente a descoberta não foi minha, mas confesso que, muito recentemente, despertei para uma realidade: que o tempo não existe, o que de facto existe é o movimento... A Terra gira, gira e é dia... ela gira, gira e temos a nossa linda lua!
ELE: O tempo não existe (se assim entender) mas deixa sempre fragmentos de recordações, de instantâneos. As saudades não são mais do que memórias afectivas do tempo que já passou. Estranho sentir saudades de ti: ainda não nos cruzámos de vida, de memórias, de realidades vividas...
No entanto... a lua, bem alta, reflecte-me saudades tuas, dos encantos que ainda não vivemos, dos passeios que ainda não demos, dos jantares à luz de velas que ainda não apreciámos, das noites que ainda não amámos...
Vou sair, vou deixá-la a conversar com a lua. Não lhe pergunte dos meus segredos pois ela é cuscuvilheira...

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