sábado, 30 de novembro de 2013

AZUIS


Mas a Serra não tem só as flores dos medronheiros... 

Tem, também, outras flores brancas, amarelas, cor de laranja e de rosa, e tem estas, de um azul, quase violeta, com um olho bem amarelo... 

São lindas, porque são singelas... e é nas coisas simples que está toda a beleza...



(DO AUTOR - FLORES AZUIS DE OUTONO, EM PLENA SERRA DE SÃO MAMEDE) 


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CAMPAÍNHAS



Os medronheiros estão no seu pleno!

As folhas, bem verdes, contrariam o castanho, o amarelo ou o vermelho das folhas das outras árvores... 

As flores, que fazem lembrar campaínhas ou abat-jours de vidro coalhado, coexistem com o fruto, bem vermelho e perfumado...

E estão carregadas de flores, aos cachos, e de frutos, também...

Como se a Serra, ao jeito do Espírito do Natal, se tivesse decorado com estas árvores de Natal... só faltam as luzinhas a apagar e acender... mas, para isso, basta olhar o céu estrelado que cobre a Serra, nestas noites geladas de quase Natal...
  

(DO AUTOR - AS FLORES DO MEDRONHEIRO)


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

PEGA



Passou ali uma boa parte da manhã... um vôo breve, um poisar no beiral e o arremessar de qualquer coisa brilhante ou colorida através das aberturas do ralo... 

Outras vezes passeava de um lado para o outro naquele passeio estreito e alto, embrenhava-se nas heras densas das extremidades e, ao fim de algum tempo, às vezes minutos, lá aparecia trazendo no bico um bago vermelho, ou uma carica reluzente, ou uma pedra branca guardando os seus tesouros no seu cofre de parede...



(DO AUTOR -  A PEGA A ESCONDER OS PRODUTOS DO SEU "ROUBO") 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

AS CORES DA COLINA


A subida era íngreme... mas prometia... 

Lá no alto, as ruínas...

Mais ao longe...  a paisagem extensa feita de colinas, de vacas que pastam tranquilamente nos pastos verdes, de fumos que se escapam das chaminés e sobem na vertical, de neblinas distantes...

E ao lado... a paleta de onde a colina veio buscar as cores, para se pintar...




(DO AUTOR - AS CORES DA COLINA )

terça-feira, 26 de novembro de 2013

AMANHECER



Os amanheceres, ali, são sempre diferentes... ora acordam com a luz brilhante do Sol a reflectir o oiro nas águas do rio, ora se encontram no meio de uma bruma densa que aconchega as águas como se fosse uma manta de angorá ou, ainda, despertam cheios de uma chuva persistentemente molhada...

Prefiro aqueles, como os de hoje, em que a luz ténue se vai espreguiçando pelo espelho das águas mansas, avivando suavemente as cores da paisagem circundante...


(DO AUTOR - AS ÁGUAS SERENAS QUASE AO ACORDAR DO DIA)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

SUAVE


Parece uma pintura... 

É só o que me apetece dizer...


(DO AUTOR - A MAGIA SERENA DAS ÁGUAS)

domingo, 24 de novembro de 2013

GOLDEN LEAVES


E, quando as folhas daquela árvore, no Jardim dos Acontecimentos, se começaram a cobrir de oiro, a magia aconteceu... 

... as nuvens tornaram-se de um cinza quase chumbo, o frio arrefeceu-se ainda mais, o lugar encheu-se de silêncios e, suavemente, os primeiros flocos de neve começaram a cair...




 
(DO AUTOR - AS FOLHAS A COBRIREM-SE DO OIRO)

sábado, 23 de novembro de 2013

VESTIDA DE OUTONO



Ao vestir-se de Outono a árvore foi-se despindo, lentamente, das folhas que a cobriam... 

Agora, esqueleto de ramos e de agulhas compridas, aguarda, serena, os frios do Inverno, feitos de vento, de gelo e de neve...

(DO AUTOR - VESTIDA DE OUTONO)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

SESTA



Se estivesse uma tarde de sol e de calor imaginava-o a fazer a sesta, tranquilo, repimpado, gozando o quente...
 
Mas a tarde estava muito fria, o sol escondido por detrás de nuvens grossas e a sesta não era mais do que um enrolar-se sobre si próprio, agasalhado no seu manto de pêlo fofo e espesso, a guardar o calor do corpo...

(DO AUTOR - AGASALHADO)









quinta-feira, 21 de novembro de 2013

CÓDIGO MORSE



À medida que o dia ia passando as nuvens foram-se enchendo de tons escuros e começaram a tapar o Sol.

Primeiro, como um tule que foi embaciando a luz clara e quente do astro-rei... depois, à medida que se iam espessando, a luz foi-se atenuando cada vez mais, as sombras deixaram de se ver e o Sol só se adivinhava pelo halo claro que tentava, desesperado, furar aquele manto espesso.

Sentado na muralha, junto à beira de um mar plácido, foi-se apercebendo dos apelos do Sol encarcerado por aquelas nuvens densas... E foi lendo, naquela superfície lisa de um mar quase parado, as mensagens, feitas dos traços e pontos de um imaginário código Morse, escritas em reflexos luminosos, que o Sol ia deixando sobre as águas... 



(DO AUTOR - O SOL ESCONDIDO A EMITIR EM CÓDIGO MORSE)


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

GEADA



Hoje arrefeceu bastante! 

Até parecia que a manhã tinha acabado de chegar do Ártico... e a verdade é que, durante o seu percurso nocturno, até à chegada da luz do sol, foi deixando os caminhos cobertos por uma geada que quase parecia neve...



(DO AUTOR -  OS CAMINHOS DA SERRA PINTADOS DE BRANCO)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

CARROSSEL



Enchia de luz, de cor, de música e de animação aquele canto da praça... Fazia a delícia das crianças e o contentamento dos pais e dos avós...

Cada viagem durava três minutos... um quase nada de tempo para miúdos entusiasmados com o sobe e desce dos cavalos, o estremecer dos atrelados, a girarem ao ritmo de um realejo que tocava sempre a mesma música, que acelerava se o carrossel girava mais depressa e abrandava quando a velocidade diminuía...

E só quando o apito soava é que a viagem terminava... então, a roda começava a andar mais devagar, os cavalos abrandavam o seu trotar, o realejo ia perdendo o fôlego e a música quase que se sumia...

Depois, era a azáfama da troca de lugares... os que saiam, satisfeitos... e os que entravam, entusiasmados, expectantes, saltando para o cavalo que tinham escolhido enquanto, do lado de fora, ansiosamente, esperavam...

De novo o apito e a roda lá recomeçava a girar, com as luzes a acender e a apagar, os cavalos a subir e a descer, num trote disfarçado, com a música, monótona como o rodar do carrossel... mas com as crianças a sorrir e a gritar alegria... em mais uma viagem de encanto...



(DO AUTOR - CARROSSEL  NA PIAZZA DE SANTA MARIA NOVELLA - FLORENÇA) 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

HORAS INVERSAS


Era um relógio especial... diferente dos outros... quem olhasse para ele, quem lhe ficasse a ver as horas, não envelhecia... Diziam!

Tinha um mostrador de onde sobressaía, no seu centro, um círculo azul a representar o universo. Por fora, em coroa circular, dispunham-se as horas anotadas em numeração romana... E eram XXIIII e não XII... 

Bem no centro de tudo, o Sol a lançar os seus raios de luz... com um dos raios, mais comprido que os outros, a servir de fiel... a apontar as horas à medida que o tempo decorria...

Mas, como naquele relógio o tempo era apontado em função do movimento aparente do Sol, as horas iam passando ao contrário e o ponteiro, o tal feito de um raio luminoso, ia girando no sentido directo, em oposição ao sentido retrógrado dos ponteiros de um relógio mecânico.

Como se, neste relógio, o tempo girasse ao contrário... a seguir à noite, o lusco-fusco aparecia, depois era a tarde, que nunca escurecia, bem pelo contrário... levava o tempo até ao meio-dia... depois seguia-se a manhã, até que chegava o amanhecer... e, depois, a noite em que tudo adormecia... 

E, a cada volta completa era como se fosse um dia a menos que se tinha... como se a vida se fosse encurtando, sem envelhecer... bem pelo contrário, até rejuvenescia...

Atraídos por essa fama da magia, à sua volta só havia gente velha cheia de esperança de voltar aos seus tempos de criança... E, a verdade é que, sempre que olhavam o relógio, a idade regredia na exacta medida do tempo em que o olhar decorria... mas, se tiravam os olhos do mostrador, voltavam à idade que, então, tinham...

Demorou tempo até entenderem que olhar para aquele relógio era uma ilusão... só porque o ponteiro andava para trás, pensavam que rejuvenesciam... 

A verdade é que o tempo segue... sempre do mesmo modo... do princípio para o fim... da manhã para a tarde... do ontem para o amanhã... sem horas inversas, ou relógios que se atrasam ou que se deixam parar...



(DO AUTOR - RELÓGIO INVERSO - FLORENÇA)

domingo, 17 de novembro de 2013

CORDEIRO DE NATAL


Poderia ser o Cordeiro Pascal se fosse perto do tempo da Quaresma e de Páscoa...

Mas não, agora que é quase a época de Natal - na verdade até há maduros que querem pôr o Natal em Novembro não respeitando minimamente as tradições e o provérbio alentejano "chuva em Novembro, Natal em Dezembro" - este cordeiro, saído do interior de um tronco de árvore, onde estava bem aconchegado, irá, certamente, fazer parte de algum presépio, daqueles de figuras em tamanho natural...

Pareceu fácil o nascimento... apenas foram precisos três ou quatro golpes no cerne duro do tronco e a figura do cordeiro surgiu assim, como se tivesse estado, tranquilamente, à espera de alguém que o tirasse lá de dentro... como se tivesse sido uma cesariana vegetal...

Agora, calmamente, aguarda que as mãos do escultor-artista lhe amaciem os ângulos da cabeça, lhe aconcheguem as orelhas e lhe faça nascer a lã encaracolada por todo o corpo...

 
(DO AUTOR - A ESCULPIR DE UM TRONCO - CASTELO DE VIDE)

sábado, 16 de novembro de 2013

ROMÃS



Dizem que, originariamente, vêm do Oriente próximo e da Ásia Menor... Também há quem afirme que o seu país de nascimento é o Irão... Os árabes chamam-lhe "rumman", os portugueses passaram a chamar-lhe romã, e o nome ficou.

Não são um fruto, mas uma infrutescência... E, como nos tempos dos Romanos, as melhores romãs vinham de Punica (era assim que os Romanos chamavam a Cartago) e porque têm muitos grãos (dizem que são 613, o mesmo número que os mandamentos do Torah, dos judeus!) Lineu classificou-as com o nome Punica granatum

Também dizem que a cidade de Granada, passou a chamar-se assim devido ao facto de haver muitas romãzeiras por aqueles sítios...

As romãs estão associadas a muitos episódios bíblicos: os 12 espias judeus que foram enviados à Terra Prometida voltaram carregados de romãs; havia muitas romãzeiras nos jardins do rei Salomão...

Estão, também, associadas às paixões, ao casamento, à fecundidade, à riqueza, assim como são o símbolo de uma boa saúde e de longa vida. E porque a romã se remata por um cálice em forma de coroa, como a de um rei, é tradicionalmente comida no dia de Reis e é também chamada de "fruta" rainha.

Possuem muitas propriedades medicinais e são muito ricas em anti-oxidantes, atrasando o envelhecimento, para além de serem pobres em calorias...

O tempo delas é agora, o tempo dos frios, do Natal, dos Reis... 

Só falta que amadureçam um pouco mais...


(DO AUTOR - ROMÃS DA QUINTA DA PROSA)


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CATRAIO



O Catraio era um barco de fundo chato, bojudo o suficiente, capaz de transportar pessoas e carga entre as margens do rio e do Mar da Palha... Tal como as Fragatas do Tejo, era o meio ideal para fazer chegar o sal, extraído das salinas, aos bacalhoeiros que partiam para a pesca nos mares do norte e usado para conservar o bacalhau... 

O sal viria, provavelmente, das salinas de Alcochete ou do Samouco... os homens seriam varinos ou avieiros que, à falta de peixe para pescar no grande rio ou naquele imenso Mar da Palha, por não ser a época do sável, iam tentando o sustento na faina do sal... 

E, ao ficar cheio daquele  sal precioso, lá partia o Catraio para a outra margem do rio, que também é mar, de velas enfunadas, insinuando-se, sob as ordens do Mestre, pelas calas desenhadas por força das marés e das correntes, naquela zona de baixios...

Recortes da vida ribeirinha quando o sal ainda pagava salários...


(DO AUTOR - RETRATOS RIBEIRINHOS EM FRESCO ANÓNIMO)


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

MEDRONHOS


Parecem árvores de Natal, os medronheiros...
 
Uma árvore, não muito grande, mas robusta e densa... com os ramos cheios de folhas bem verdes e recortadas... e, à medida que se aproxima Dezembro e a época do Natal, a árvore vai-se decorando, em simultâneo, com pequenas flores brancas, em forma de campânula, e frutos, redondos, como se fossem bolas coloridas, pintalgando a árvore com a sua cor dominante de vermelho.

Assim que o frio começa a descer da serra os medronhos começam a crescer e a amadurecer, passando do verde pálido, pelo amarelo rosado até chegar ao vermelho bem vivo... e a impregnar a mata de um cheiro inebriante e adocicado...

Mais um dos encantos da minha Serra e do meu lugar...

(DO AUTOR -  MEDRONHOS)


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PINCELADAS



Os dias, agora, têm um acordar diferente...

Com a entrada do Outono, o Sol passou a andar mais baixo e mais para sul... 

Nos amanheceres em que não há nuvens, a bola laranja avermelhada do Sol, parece que anda a brincar ao esconde, à medida que vai subindo por detrás dos prédios que marginam o rio. 

Mas, nos dias em que as nuvens imperam e o Sol não se vê, apenas se adivinha pela luminosidade translúcida que vai clareando com o correr do tempo...

Por vezes, esse acordar expressa-se como um risco, ou como um traço... umas vezes mais para o tom laranja, outras mais para o amarelado...

Hoje amanheceu assim, bem vermelho, como uma pincelada rubra em céu cinzento de nuvens!





(DO AUTOR - UM ACORDAR PINCELADO A VERMELHO)


terça-feira, 12 de novembro de 2013

VERDE RUBRO


Não se cansava de a olhar... 
 
Não porque fosse uma árvore muito grande, ou muito frondosa... estava, era certo, ainda cheia de folhas e carregada de frutos, grandes, bem pesados, o que fazia com que os ramos viessem beijar o chão, tal a sobrecarga... alguns dos ramos, os mais frágeis, até se partiram, não suportando o peso... Sobretudo, admirava-a pela cor das folhas, pela maneira como se separaram de uma forma tão nítida, sendo todas das mesma árvore... de um lado, a assumirem a sua cor de outono, fazendo uma mancha bem vermelha... e, do outro, conservando o seu verde primitivo, a quererem manter o seu colorido de juventude...

O verde e o rubro, imitando as cores da bandeira...






(DO AUTOR - DIOSPIREIRO COM CORES DE OUTONO)


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O SÃO MARTINHO


Ontem tive, como uma das minhas preocupações para o dia de hoje, - o Dia de São Martinho -, o ir comprar as castanhas assadas na rua, comer algumas ainda quentes e guardar o resto para, depois do jantar, as comer acompanhadas de um bom copo de jeropiga, ou de vinho abafado... 

A verdade é que passei o dia sem ver um assador a libertar aquelas nuvens de fumo branco enrolado, sem sentir o cheiro único das castanhas assadas e também não vi ninguém com o tradicional pacote, feito de papel de jornal, na mão ou a comer castanhas...

Até parecia que o São Martinho se tinha escondido... apesar do dia lindo de quase Verão... ou seria porque as pessoas, preocupadas com a crise, com o lufa-lufa do dia a dia, dos transportes, dos horários a cumprir, se esqueceram deste santo homem que um dia virou mesmo Santo?

Mas não... já o dia tinha ficado sem sol (esta história de mudarem a hora!) e, numa esquina, quase escondida das pessoas que passavam frenéticas, lá estavam... o triciclo,  o assador, o fumo branco, o cheiro das castanhas assadas... a dois euros a dúzia...

O vinho abafado, pleno de aroma e de um adeus untuoso,  foi o complemento final deste dia de São Martinho...



(DO AUTOR - OURIÇOS, CASTANHAS... O SÃO MARTINHO A CHEGAR!)


domingo, 10 de novembro de 2013

MAÇÃS DE BRAVO



Esmolfe é uma terrinha que fica no distrito de Viseu, no concelho de Penalva do Castelo (antigamente chamada Castendo).

É a terra de origem de umas maçãs especiais... pelo aroma, pela textura, pelo sabor... são as maçãs de bravo de Esmolfe... Tem sido chamada por muitos nomes horríveis: Esmoufe, Môfo, Moufe... Mas o nome de Bravo, esse, persiste.

São uns frutos relativamente pequenos, que cabem na palma de uma mão, têm a pele esbranquiçada a fugir para um desmaiado amarelo citronado com manchas rosadas, têm um cheiro deliciosamente adocicado, uma textura rígida e suculenta, e um sabor doce, muito peculiar e sumamente agradável.

São as melhores maçãs do mundo... porque são exclusivamente nossas, porque têm aroma e sabor, e porque se comem bem à dentada... e fazem um doce divinal...

(DO AUTOR - MAÇÃS DE BRAVO DE ESMOLFE DA QUINTA DA PROSA)






sábado, 9 de novembro de 2013

JARDIM DE PEQUENAS COISAS



"Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico de ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz."

António Ramos Rosa, in "Volante verde"



(DO AUTOR - COMPOSIÇÃO DE CORES EM JARDIM DE PEQUENAS COISAS)









sexta-feira, 8 de novembro de 2013

LAREIRA


Juntou os cavacos de lenha, às pinhas secas que guardara do Verão, colocou por baixo uns jornais antigos e chegou-lhes o lume...

A chama veio rápida e forte mas, ao fim de pouco tempo esmoreceu e lá teve que se ajoelhar e começar a soprar no fogo que se queria ir embora... e, à medida que soprava o lume foi-se, de novo, avivando e, assim que as pinhas começaram a arder, a lareira começou a ganhar nova vida... Só a madeira crepitava e gemia, como que incomodada por aquele fogo que a consumia... 

A pouco e pouco, as brasas iam aparecendo, o borralho formava-se no chão da lareira e o calor foi temperando a sala de calor e de aromas... 

E, enquanto lá fora, a chuva mole preenchia o fim do dia... o fogo da lareira enchia a casa de calor e de magia...  


(DO AUTOR - A LAREIRA)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PENUMBRA



A tarde vai-se movendo, no seu vagar, a caminho da noite...

Arrastadas nesse movimento, as cores vão-se, também, desvanecendo a pouco e pouco... 

Mas, teimosamente, no meio do cinzento que a penumbra produz, vai persistindo o vermelho-sangue das folhas de Outono...



(DO AUTOR - A NOSTALGIA DE UM FIM TARDE) 

  

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

MANHÃ SUBMERSA


Gosto de ver, assim, estas manhãs submersas em mistério, em bruma... manhãs tranquilas, silenciosas, quase paradas... 

Parece que o tempo tem mais tempo... a convidar a ficar mais uns minutos dentro dos lençóis, aconchegado, amortecido, satisfeito...

(DO AUTOR - LENÇÓIS DE NUVENS A ACONCHEGAREM O MONTE DA PENHA)


terça-feira, 5 de novembro de 2013

EXPRESSÕES



Passara a noite na má vida... atrás das gatas... tinha sido um verdadeiro ver se te avias... ficara de barriga cheia... agora, claro, como não tinha tido tempo para pregar olho, o cansaço era tal que já nem podia com uma gata pelo rabo...

Aproveitou o sol curto da manhã e, sem pensar duas vezes, enrodilhou-se em si mesmo e não fez mais do que passar pelas brasas...

Fechou assim, com chave de ouro, uma noite de arraso!




(DO AUTOR - PASSANDO PELAS BRASAS - CASTELO DE VIDE)


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

NOCTURNO



Sentado no muro, diante do Peter's, deixava que a música da guitarra clássica e do contra-baixo, num dueto de puro jazz apenas tocado por aquelas cordas, o envolvessem e criassem uma atmosfera única num ambiente quase irreal... 

E, enquanto a melodia subia de tom, os acordes se tornavam mais marcantes e o ritmo inebriava, na ilha em frente, a Madalena ia-se aconchegando na noite estendendo as suas luzes ao longo da margem do canal de águas agora adormecidas, à sombra do Pico majestoso e dominador...




(DO AUTOR - O PORTO DA HORTA COM O PICO AO FUNDO)



domingo, 3 de novembro de 2013

NO PRADO DE PELO PARDO


Estava ali no seu inquieto viver... Sempre atenta, de olho vivo, orelhas à escuta, faro desperto e coração de bater rápido... Era assim o seu dia a dia...

Saía da toca, onde deixava as crias, olhava para um lado e para outro, espreitava o céu, girava as orelhas, cheirava o ar e, se nada a alertava ou fazia desconfiar, dava dois ou três pulos, parava de novo, repetia os gestos de atenção e lá prosseguia... 

O pelo pardo, a mimetizar-se com as cores do prado, tenta enganar os predadores que a procuram...

Uma cenoura selvagem, uma erva mais carnuda, um pomo caído no chão... até uma flor mais composta... roía tudo, devorava tudo o que era comestível...

Naquela tarde, em que mais nada aconteceu... voltou, tranquila, ao escuro da toca, para alimentar  e aquecer as crias...


(DO AUTOR -  NO PRADO, DE PELO PARDO)

sábado, 2 de novembro de 2013

AMENIDADES



Não sei se é por ser sábado, se por o dia estar assim meio melancólico, com nuvens cinzentas e um sol envergonhado, se porque é dia de finados... a verdade é que apeteceu um passeio fora da cidade, longe das ruas e dos carros, pelo meio de um campo onde ainda se desfruta a  Natureza... 

E, na verdade, soube bem estar ali, na periferia de uma paisagem onde as águas encontram a terra, as aves se ficam pela fronteira desses dois mundos e, mais ao longe, os cavalos pastam amenamente... 


(DO AUTOR - PAISAGEM AMENA EM FIM DE TARDE)


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

OS SANTOS

Celebra-se hoje, o dia de Todos-os-Santos... ou, simplesmente, Os Santos...

É aquele dia em que se devem cumprir todas as promessas que deviam ser pagas no Dia de São Nunca... é que hoje é, também, o dia dele!

Nos Santos celebra-se a Festa, há muitas Feiras dos Santos por aí, é altura para se trocarem lembranças ou presentes... os santinhos...  que têm muito a ver com o que a terra dá: são as avelãs, as nozes, as castanhas, a água-pé, a jeropiga, as broas de milho... Para os miúdos são as guloseimas... 

É o dia do Pão por Deus, como ainda se celebra em muitas terras do nosso País. E, também, o dia em que as pessoas iam aos cemitérios, embora o dia de Finados se comemore só amanhã...

Hoje, com a abolição do feriado, quase nem se deu por este Dia de Todos-os-Santos... toda a gente trabalhou, não houve filas nos cemitérios e o trânsito nas estradas foi como o de uma sexta-feira qualquer...

(DO AUTOR - FLORES A LEMBRAREM CIPRESTES) 




quinta-feira, 31 de outubro de 2013

BRUXAS


Andam por aí... à solta, a voar em vassouras, a largarem o visco da poção mágica que preparam na noite anterior, a deixarem um rasto de raios e coriscos, a assustar os gatos pretos que são a sua companhia...



(DO AUTOR - GATO PRETO EM NOITE DE BRUXAS)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PARTIDA


A caldeira ganhou pressão... o vapor empurrou os êmbolos que puseram a girar as enormes rodas laterais e o barco partiu, mar fora... 

Deixou as saudades em terra... 

Levou consigo a esperança de uma vida com futuro...



(DO AUTOR - O VAPOR... DE PARTIDA)


terça-feira, 29 de outubro de 2013

AVIEIROS



Na partida para a faina... na margem  do rio, o avieiro...

Veio da Vieira de Leiria, com os frios, os ventos cortantes e o mar forte de ondas bravas... 

Até ali, ao Escaroupim... com a família... à procura do sustento... do sável que chega, Tejo acima, aos cardumes... com a ilusão que, o lançar as redes lhe traga a esperança de uma vida melhor...





(DO AUTOR - A PREPARAR A PARTIDA...)


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

LAVADEIRAS



Vinham de Caneças...

Chegavam à segunda-feira e andavam pela cidade, de trouxa à cabeça, a entregar a roupa lavada e engomada, depois de bem corada ao sol, levando de volta a roupa suja que seria tratada durante a semana...

Nessa altura, as clientes ainda se chamavam freguesas, as máquinas de lavar roupa ainda não tinham sido inventadas e as lavadeiras de Caneças eram bem-vindas à cidade... Traziam alegria, movimento, enchiam as ruas de cantigas e, com elas, vinha o cheiro da roupa bem lavada...

A Beatriz Costa eternizou estas lavadeiras no filme e na canção Aldeia da Roupa Branca:

Ai rio não te queixes,
Ai o sabão não mata,
Ai até lava os peixes,
Ai põe-nos cor de prata.

Roupa no monte a corar
Vê lá bem tão branca e leve
Dá ideia a quem olhar
Vê lá bem que caiu neve.

Água fria da ribeira,
Água fria que o sol aqueceu,
Velha aldeia, traga a ideia,
Roupa branca que a gente estendeu.

Três corpetes, um avental,
Sete fronhas, um lençol,
Três camisas do enxoval
Que a freguesa deu ao rol.

Ai rio não te queixes,
Ai o sabão não mata,
Ai até lava os peixes
Ai põe-nos cor de prata.

Olha ali o enxoval
Vê lá bem de azul de esperança
Perece o monte um pombal
Vê lá bem que pombas brancas.

Água fria, da ribeira,
Água fria que o sol aqueceu,
Velha aldeia, traga a ideia,
Roupa branca que a gente estendeu.

Três corpetes, um avental,
Sete fronhas, um lençol,
Três camisas do enxoval
Que a freguesa deu ao rol.

Ai rio não te queixes,
Ai o sabão não mata,
Ai até lava os peixes
Ai põe-nos cor de prata.

Um lençol de pano cru,
Vê lá bem tão lavadinho,
Dormimos nele, eu e tu,
Vê lá bem, está cor de linho.

Água fria da ribeira,
Água fria que o sol aqueceu,
Velha aldeia, traga a ideia,
Roupa branca que a gente estendeu.

Três corpetes, um avental,
Sete fronhas, um lençol,
Três camisas do enxoval
Que a freguesa deu ao rol.


http://letras.mus.br/beatriz-costa/492618/




(DO AUTOR - LAVADEIRAS DA ALDEIA DA ROUPA BRANCA)


domingo, 27 de outubro de 2013

AVE DO PARAÍSO



Estava ali, na parede rosada daquela casa.

De cores vivas, com cauda longa e fina, rematada por um tufo de pequeníssimas e delicadas plumas... 

Devia estar na época de acasalamento... no período mais romântico da sua existência... a olhar a companheira escondida na densa folhagem da árvore que lhe dava apoio...

E, para lhe chamar a atenção, agitava-se, batia as asas, ameaçava voos de partida... mas voltava, súbito, ao mesmo galho...

E a reminiscência do seu canto fazia-se escutar no som longínquo de campainhas que repicavam ao som de um vento brando que descia da serra... tal como quando o escutava nos seus passeios pela floresta tropical...  




(DO AUTOR - AVE DE PARAÍSO - REMINISCÊNCIAS DE UM BRASIL ROMÂNTICO)


sábado, 26 de outubro de 2013

BONANÇA


Vem sempre a seguir à tempestade!

Na véspera, a chuva inclemente, os rios e as torrentes de água a arrastarem tudo à sua frente... O caos!

Hoje, apenas as reminiscências brancas e fofas das nuvens bem negras e pesadas que, ontem, cobriam este céu, agora tão azul e tão brilhante!


(DO AUTOR - O CÉU DO ALGARVE)


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MAR CHÃO



Mar chão... de ondas moles e espumas suaves...





(DO AUTOR - O MAR DA ERICEIRA EM MANHÃ FLAT)


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ESTRATIFICAÇÃO


São precisos milhares, milhões de anos para que possamos ver as pedrinhas, assim, depositadas numa linha que parece ter sido traçada a régua...
 
Uma Natureza paciente, que vai guardando e mostrando a sua própria história... àqueles que lhe conseguem ler os segredos, assim, estratificados...


(DO AUTOR - AS ARRIBAS ALGARVIAS)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CINCO HORAS...


Pelo menos era assim que indicava aquele relógio de sol, em tarde soalheira... a hora ideal para um chá...

Mas hoje não lhe ia apetecer, nem chá verde, nem preto...

Pensava, antes, numa mistura que associasse o chá verde, sempre cheio de antioxidantes, a uma infusão de limão, gengibre e mel... É que a garganta, ainda combalida da constipação de há dias, iria beneficiar daquela mistura quente e adstringente, tomada em goles curtos e a deslizar suavemente pela goela abaixo, até se aninhar, quietinha, no estômago...

E, à medida que ia bebericando a infusão de aromas e sabores, a garganta ia ficando mais macia, menos agarrada e irritada... A voz perdeu aquele tom meio rouco e, até, aclarou...  

Ainda bem que não chovia àquela hora, e o sol não estava coberto por nuvens, quando olhou para o relógio... se não, como iria saber se já estava na hora do seu "five'o clock tea...?"  




(DO AUTOR -  RELÓGIO DE SOL NA PONTE VECCHIO -  FLORENÇA)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

CHAMA


Fez um "scracht" com a cabeça do fósforo na lixa da caixa, deixou que aquela explosão de luz e fogo acalmasse e encostou o fósforo aceso ao pavio grosso, bem impregnado de estearina, ao mesmo tempo que protegia, com a mão, a chama do vento silencioso...

Desta vez não houve explosão... foi mais como um beijo que ia transferindo o calor e a luz efémera do pau do fósforo, que rapidamente se ia carbonizando, para aquele torcido de fibras, prometedor de uma chama consistente e duradoura, que se foi afirmando no tamanho, na luminosidade, no calor...

E, silenciosamente ali ficou, a fazer-lhe companhia, numa presença discreta e tranquila, até que... lentamente, se deixou apagar, sem um ai, sem um adeus... apenas deixando subir, no ar, um fio de fumo esbranquiçado iluminado pelo morrão vermelho da brasa do pavio que, cedo, se extinguiu...

Depois, ficou a escuridão...

E foi, ao sentir a ausência daquela chama, que se deu conta de como as noites, no campo e sem luar, são negras, longas e solitárias...



(DO AUTOR - CHAMA)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

SILÊNCIOS


Hoje, a cidade acordou embrulhada em silêncios...

As ruas desertas e húmidas de orvalho...

Poucos eram os carros que passavam, silenciosos e sem buzinadelas... também não eram muitas as pessoas que se viam a caminho do trabalho. Outras, poucas, passeavam os seus cães, silenciosa e tranquilamente... sem um latido ou um rosnar...

Pássaros, só um! Um melro negro e luzidio, que saltitava, silenciosamente, na relva da praceta, à procura do alimento...

Pouco habitual um cenário destes...

A lua, ainda bem cheia, alumiava, já no seu ocaso, a cidade que se apressava a sair da escuridão da noite, ajudando à montagem de um cenário de quase mistério e cumplicidade no acordar deste dia de hoje...

Foi quando olhou para o relógio e se deu conta que passava pouco das seis da manhã!


(DO AUTOR - LISBOA A ACORDAR E A LUA A ESCONDER-SE)


domingo, 20 de outubro de 2013

COGUMELOS


Agora, com as noites mais frescas e com alguma humidade, com o orvalho a cobrir o chão...

Surgem... como cogumelos!


(DO AUTOR - COGUMELOS A BROTAR)


sábado, 19 de outubro de 2013

AMARELAS


Quase parece primavera...

De um dia para o outro o relvado encheu-se de flores amarelas... viçosas, bem coloridas, bem abertas... 

Bastaram uns dias de chuva, um calorzinho e bastante sol... e a natureza a reagir aos seus sentires...

Ficam bem... a contrastar com os castanhos e vermelhos das folhas das videiras ali ao lado...

(DO AUTOR -  FLORES AMARELAS DE OUTONO)


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

BOLOTAS


Começaram a cair agora... O chão está cheio...

Os sobreiros e os carvalhos estão a libertar-se delas e, à sua volta, o terreno está atapetado destas glandes castanhas e lustrosas...

Habitualmente servem de alimento ao porco e ao peru que já está engordar para o Natal...

Antigamente eram muito usadas em culinária, como substituto da farinha, na confecção de bolos, no acompanhamento de pratos de carne e, mesmo, assadas como as castanhas...

Agora,  tal como com a alfarroba, já se começam a ver, por aí,  bolachas e bolos secos feitos com farinha de bolota... à maneira tradicional!

Estas, vou apanhá-las e assá-las... São boas e quentes... como as castanhas!

(DO AUTOR - BOLOTAS)



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A AMADURECER


Já falta pouco tempo...

A árvore está cheia, carregadinha, a vergar os galhos para o chão sob o peso dos frutos...

Bem característicos desta época... os dióspiros (ou caqui)... juntamente com as castanhas, as romãs, os marmelos, os medronhos...

E, estes, são dos moles, dos que se comem à colher, com um pouco de canela (de novo a Rota das Índias)... de sabor adstringente mas, ao mesmo tempo, adocicado, a fazer cócegas na língua e a encarquilhar o paladar... uma delícia...

É só uma questão de tempo!

(DO AUTOR -  OS DIÓSPIROS A AMADURECEREM...)