É o tempo que há-de vir, o tempo que anuncia a chegada e que celebra as quatro semanas que precedem o Natal!
Os meus Natais de infância, quando ainda tinha avós, eram passados em casa deles... na Beira Alta, no tempo em que o Natal era mesmo frio, gélido, com ventos cortantes, que traziam ainda mais frio, vindos da serra da Estrela, geada e, por vezes, neve... um frio tanto, que até fazia "caramelo" na parte de dentro dos vidros das janelas.
Mas esse frio e esse desconforto eram compensados pelo imenso calor humano, fraterno, filial e "avoento" que ali era gerado.
E o Natal era bem preparado... o tempo do Advento, era o tempo de reflexão para o Natal que aí vinha, mas era também, o tempo para estarmos todos juntos, os avós, os pais, os tios e os primos, tanto do lado da Mãe como os do lado do Pai...
As casas dos avós, que ainda lá estão, quase se olhavam de frente e, então, se não estávamos num lado, estávamos no outro...
Na cozinha a forno de lenha da avó Isabel, a Luísa preparava as filhós, o arroz doce e os coscorões... já a minha avó Laura, excelente cozinheira e doceira, enchia a casa de aromas açucarados com toques de canela e de casca de laranja das rabanadas e que, ainda hoje, despertam as mais saudosas lembranças olfativas...
Os presépios, tanto numa casa, como na outra, eram a sério... com musgo, com espelhos a fazer de lagos, com a neve e os caminhos desenhados a farinha, com toda uma colecção de figuras cheias de cor, com os Reis Magos montados em camelos e, na cabana com telhado de palha, salpicada da tal neve enfarinhada, lá dentro, a família do Natal, com o menino de perna cruzada, mais a vaca, o burro e algumas ovelhas e, do lado de fora, uma estrela com cauda de cometa a apontar o local aos Magos que ainda vinham longe.
Como ainda não havia Coca-Cola, não havia o hábito das árvores de Natal iluminadas, nem do Pai Natal e das renas a puxarem o trenó... O Natal, nessa altura, pouco tinha de comercial, de compras impulsivas, de profano...
O Natal, nessa altura, era mais tempo de família, de alguma ou muita religiosidade, conforme a crença de cada um, da missa do galo, das lareiras de chamas vivas, de sorrisos, de alegria... mas, também, do tal frio gélido e penetrante, atiçado pelo vento que chegava da Serra da Estrela...
Estes
Presépios, das fotografias, são de Estremoz e agora são Património da
Humanidade... Obrigado manas Flores!