É uma reminiscência da "velha" Chanfana da Beira Litoral... Aproveita-se a cabra velha, já sem préstimo, juntam-se-lhe os temperos e os condimentos apropriados, põe-se a cozinhar num alguidar ou assadeira de barro, durante quase um dia, no forno de lenha, até se obter uma carne mais macia, condimentada e cheia de bons odores e sabores...
Parte da emigração da Terceira, na altura do descobrimento das ilhas açorianas, veio da zona da Bairrada e, à falta, talvez, das cabras resolveram substituí-la pela vaca velha que já não servia para nada, muito menos para dar leite.
E, assim, apareceu a Alcatra de vaca, um dos pratos mais tradicionais desta ilha. Só que os tempos foram mudando, os paladares diversificando, as mudanças surgindo e hoje, nesta ilha de encantos, de mistérios, de partilhas, de touradas à corda e dos impérios do Espírito Santo come-se Alcatra de quase tudo... Só uma coisa que não muda: é sempre servida do alguidar de barro, cozinhada no forno e leva uma fatia de pão no fundo do prato...
Esta, que comi em Porto Judeu, no Boca Negra (um peixe típico dos mares dos Açores) era de congro, ou safio, como se chama no continente deste Portugal insular, e estava soberba.
O peixe branco, sem espinhas, de carne consistente, quase se desfazia na boca libertando sabores únicos...
O vinho branco, vindo das pedras de lava, das célebres curraletas que absorvem e conservam o calor para que as uvas possam amadurecer, mesmo quando não há sol, servido bem gelado, fazia o contraste ideal com aquela "sopa" de peixe, bem quente.
E depois, nos Açores, o ananás é sempre a sobremesa indicada para "desmoer" a Alcatra...
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(DO AUTOR - A ALCATRA DE CONGRO... SABOROSÍSSIMA!) |