Sempre fora assim, um distraído!
As coisas aconteciam e ele não dava por elas: comprava os jornais mas não prestava atenção aos títulos, apenas folheava as primeiras páginas e ia directo para a secção cultural, ia ver das inaugurações, das exposições, dos concertos, das críticas cinematográficas e acabava, sempre, nas palavras cruzadas; deixava passar as horas dos noticiários na televisão porque se deliciava com aqueles programas sobre a Natureza, desde as migrações dos gnus, ao viver dos ursos polares ou dos pinguins, ou sobre os modos de vida e organização das formigas e das abelhas, ou, então, ligava para o canal Mezzo, por causa das óperas que adorava ver e escutar; a rádio, só a tinha sintonizada nos programas de música clássica.
Como se a vida, e os acontecimentos desta, lhe fosse passando ao lado, sem se aperceber das mudanças.
Como se a vida, e os acontecimentos desta, lhe fosse passando ao lado, sem se aperceber das mudanças.
Ia sabendo das coisas quando almoçava ou jantava com os amigos. Aí, ficava atento às conversas, ia perguntando pelo que se passava, ia-se inteirando dos factos mas, assim que algum dos amigos começava a falar dum filme que tinha visto, ou do concerto da semana anterior na Gulbenkian, fazia curto-circuito nas conversas e desligava-se da conversa da política, da crise, da troyka, dos escândalos políticos e financeiros, da prisão do Lima, do julgamento do Vara ou das atrocidades do Ghoby.
Os amigos até lhe chamavam o ET. Parecia que vivia num outro mundo.
Mas, no fundo ele estava atento, atento a tudo, atento ao mundo, atento à vida, atento ao que o rodeava... Só não queria dar parte fraca, só não queria dizer aos outros, o que o atormentava.
Os amigos até lhe chamavam o ET. Parecia que vivia num outro mundo.
Mas, no fundo ele estava atento, atento a tudo, atento ao mundo, atento à vida, atento ao que o rodeava... Só não queria dar parte fraca, só não queria dizer aos outros, o que o atormentava.