No tempo em que os animais falavam existia, no meu quintal, uma raposa.
Esperta, ladina, regougante nas suas exigências, passava o dia na toca mas, de vez em quando, ao anoitecer saía do seu buraco e, nos dias em que me sentava à borda da piscina a olhar o céu, vinha para o pé de mim.
Sabia que tinha petisco, refeição assegurada e, assim, em vez de perder o seu tempo em tentar ir aos galinheiros dos vizinhos, andar feita perdida pelos carreiros da noite à procura de um alimento que surgisse, ficava-se por ali, ao meu lado quase como um gato, enroscada em si mesma, e a abraçar a cauda, longa e bem tufada de uma pelagem quase dourada, à minha perna, deixando, de vez em quando, que a minha mão lhe acariciasse o dorso.
É que também não se dava bem com o galo do Sr. Frutuoso, o meu vizinho cesteiro, que a bicava forte no focinho e cócóricava bem alto na defesa das suas galinhas e dos ovos e, muito menos, com os mastins agressivos do vizinho de cima que, apesar de acorrentados, a impediam de chegar aos coelhos de criação.
Esperta, ladina, regougante nas suas exigências, passava o dia na toca mas, de vez em quando, ao anoitecer saía do seu buraco e, nos dias em que me sentava à borda da piscina a olhar o céu, vinha para o pé de mim.
Sabia que tinha petisco, refeição assegurada e, assim, em vez de perder o seu tempo em tentar ir aos galinheiros dos vizinhos, andar feita perdida pelos carreiros da noite à procura de um alimento que surgisse, ficava-se por ali, ao meu lado quase como um gato, enroscada em si mesma, e a abraçar a cauda, longa e bem tufada de uma pelagem quase dourada, à minha perna, deixando, de vez em quando, que a minha mão lhe acariciasse o dorso.
É que também não se dava bem com o galo do Sr. Frutuoso, o meu vizinho cesteiro, que a bicava forte no focinho e cócóricava bem alto na defesa das suas galinhas e dos ovos e, muito menos, com os mastins agressivos do vizinho de cima que, apesar de acorrentados, a impediam de chegar aos coelhos de criação.
E, como era no tempo em que os animais falavam, contava-me da vida boa que tinha tido, da sua esperteza sobre os outros animais, como os enganava com facilidade, de histórias que se tinham passado com galos, cegonhas, coelhos, mochos, lobos, sei lá....
Gostava e repetia frequentemente a história passada com corvo e o queijo que ele tinha na boca e como ela o enganou dizendo que tinha um cantar muito bonito, e como tinha enganado a cegonha ao servir-lhe a sopa num prato raso, das uvas que estavam verdes mas que esperou que amadurecessem e, de um salto as comeu, de como tinha comido o galo enganando-o com a proclamação dos animais... e assim ia vivendo de mentiras que fabricava para se sentir esperta e poderosa.
Não sabia que as histórias que me contava já as tinha lido do Esopo e de La Fontaine.
Hoje, ao ler sobre as mentiras do governo, da política cinzenta e opaca, do volta a trás, do dito por não dito, das trapalhices, das trapalhadas, e do modo como tentam enganar o povo, lembrei-me da raposa, do Esopo e do La Fontaine.
Ah, se o La Fontaine voltasse... quantas histórias ele não ia acrescentar à sua longa lista de fábulas!
Não sabia que as histórias que me contava já as tinha lido do Esopo e de La Fontaine.
Hoje, ao ler sobre as mentiras do governo, da política cinzenta e opaca, do volta a trás, do dito por não dito, das trapalhices, das trapalhadas, e do modo como tentam enganar o povo, lembrei-me da raposa, do Esopo e do La Fontaine.
Ah, se o La Fontaine voltasse... quantas histórias ele não ia acrescentar à sua longa lista de fábulas!