quarta-feira, 30 de junho de 2010

SE O LA FONTAINE VOLTASSE

No tempo em que os animais falavam existia, no meu quintal, uma raposa.
Esperta, ladina, regougante nas suas exigências, passava o dia na toca mas, de vez em quando, ao anoitecer saía do seu buraco e, nos dias em que me sentava à borda da piscina a olhar o céu, vinha para o pé de mim.
Sabia que tinha petisco, refeição assegurada e, assim, em vez de perder o seu tempo em  tentar ir aos galinheiros dos vizinhos, andar feita perdida pelos carreiros da noite à procura de um alimento que surgisse, ficava-se por ali, ao meu lado quase como um gato, enroscada em si mesma, e a abraçar a cauda, longa e bem tufada de uma pelagem quase dourada, à minha perna, deixando, de vez em quando, que a minha mão lhe acariciasse o dorso.
É que também não se dava bem com o galo do Sr. Frutuoso, o meu vizinho cesteiro, que a bicava forte no focinho e cócóricava bem alto na defesa das suas galinhas e dos ovos e, muito menos, com os mastins agressivos do vizinho de cima que, apesar de acorrentados, a impediam de chegar aos coelhos de criação.

E, como era no tempo em que os animais falavam, contava-me da vida boa que tinha tido, da sua esperteza sobre os outros animais, como os enganava com facilidade, de histórias que se tinham passado com galos, cegonhas, coelhos, mochos, lobos, sei lá....

Gostava e repetia frequentemente a história passada com corvo e o queijo  que ele tinha na boca e como ela o enganou dizendo que tinha um cantar muito bonito, e  como tinha enganado a cegonha ao servir-lhe a sopa num prato raso, das uvas que estavam verdes mas que esperou que amadurecessem e, de um salto as comeu, de como tinha comido o galo enganando-o com a proclamação dos animais... e assim ia vivendo de mentiras que fabricava para se sentir esperta e poderosa.
Não sabia que as histórias que me contava já as tinha lido do Esopo e de La Fontaine.

Hoje, ao ler sobre as mentiras do governo, da política cinzenta e opaca, do volta a trás, do dito por não dito,  das trapalhices, das trapalhadas, e do modo como tentam enganar o povo, lembrei-me da raposa, do Esopo e do La Fontaine.

Ah, se o La Fontaine voltasse... quantas histórias ele não ia acrescentar à sua longa lista de fábulas!



terça-feira, 29 de junho de 2010

A VERDADE E A DÚVIDA

Estamos a viver mais um campeonato do mundo de futebol.

Altura em que se investem milhões no apurar da tecnologia da imagem e as transmissões de televisão, em HD ou em 3D, não deixam perder os mais pequenos detalhes, desde o pé malandro que vai pisar a perna do adversário, à rasteira bem elaborada e estudada, aos fora de jogo, às bolas que saem fora da linha lateral, às que passam a marca da baliza, se é canto ou não, às falsas quedas dentro da pequena área a pedirem um penalti inexistente... um sem número de artimanhas que os jogadores aprendem, não para jogarem melhor futebol mas para ludibriar o oponente e, sobretudo, o árbitro...

É a tecnologia a pôr-se ao lado da verdade dos acontecimentos, a mostrar, com realidade, como foi feito, e quase a deixar mostrar a intenção com que foi feito, a tornar a dúvida do "a mim parece que foi falta", ou de que "a bola saiu," ou de que "o jogador estava em fora de jogo", em certezas, sem dúvidas.

E toda a gente vê: em casa, nos cafés, nos écrans gigantes dos próprios estádios... só quem parece que não vê, ou não quer ver, são as pessoas que deviam estar mais próximas da verdade, e a quem cabe a decisão final, sem dúvidas... os árbitros!

Quando surge um lance mais polémico falam entre si, via rádio, com a mão à frente da boca para que não se possa ler através dos lábios, confabulam, mas não olham para os écrans que mostram a falta que se recusam a castigar, ou o golo que não validaram e que afinal era mesmo golo, ou a mão (de Deus?) que mete a bola dentro das redes e um sem número de outros casos que vão viciar a verdade dos factos.

A quem interessa a cegueira? A um vendedor de bengalas brancas? A um lobby dos árbitros com medo de perderem alguma forma de poder? À imprensa futebolística? Aos programas de televisão sobre futebol?

Não sei, não entendo muito da política do futebol. Mas fico com a convicção de que muito mais do que a procura da verdade interessa, acima de tudo, a verdade da dúvida!


segunda-feira, 28 de junho de 2010

JACARANDÁ

O nome tem coisa de exótico.
Quando, jovem, fui assistir, no Teatro Avenida, à peça "As Árvores Morrem de Pé",  de Alejandro Casona, interpretada magistralmente por Palmira Bastos, na altura já com os seus 90 anos, a árvore do jardim da casa onde se passava a peça era um Jacarandá. 
Era a história de um neto malandro de quem a avó gostava muito e que aparece apenas no final, quando  toda a gente pensava que  ele tinha morrido num naufrágio. E foi para evitar  esse desgosto à avó, que adorava aquele neto mas não sabia da sua malandragem, que os familiares contrataram um  duplo para fazer as vezes dele.
Lembro bem o final, quando o engano é desmascarado, com o neto verdadeiro e o falso em cena, e a Palmira Bastos, batendo com a bengala no chão e afirmando, com a voz trémula mas afirmativa dos seus noventa anos: "-Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores!".
E assim, com esta imagem dramática e o Jacarandá tantas vezes falado na peça, que esta árvore ficou sempre na minha imaginação e nos meus recordares.

Fiquei com imensa curiosidade em saber como era a árvore. O nome fascinava, era fácil de dizer, e lembrava África ou América do Sul. Soube, mais tarde, que era originária da Bolívia, da Argentina e sul do Brasil. E só, quando anos passados as ruas da cidade de Lisboa começaram a ficar cheias destas árvores lindas é que lhes associei o nome.

O Parque Eduardo VII, a  zona das Avenidas Novas e de Santos,  e o Jardim do Príncipe Real são alguns dos locais desta cidade onde se podem apreciar.

E ficam lindas, floridas de um azul ou arroxeado intenso e de um perfume agradável, agora a atapetarem os passeios e as ruas da cidade, como se de uma alcatifa anil se tratasse. Gosto da cidade assim, colorida e cheirosa.

É por isso que, nas minhas deslocações a pé dou preferência aos caminhos filtrados pelo azul dos Jacarandás.

Digam lá se não é bonito de se ver!

domingo, 27 de junho de 2010

PASODOBLE

A praça tinha sido arranjada, toda pintada, borladeros devida e fortemente fixados, e, apesar de não ser uma praça muito grande, a moldura humana fazia inveja a muitas outras praças deste Alentejo.

A noite não podia ser melhor, a lua completamente cheia, bem amarela àquela hora da noite, uma temperatura agradável, sem vento, para não atrapalhar o capote dos bandarilheiros.

De acordo com o anúncio os cavaleiros eram três e, apenas, um grupo de forcados para os seis bravos touros de uma ganadaria espanhola.

A banda enchia a praça de "pasodobles".

Silêncio!

O toque de cornetim deu início à festa.

O primeiro cavaleiro, de casaca verde, montando um cavalo baio bem apresentado, prenunciava uma bela faena. Mas o touro saiu manso. A faena não resultou e a pega só se completou à quarta tentativa.

Para alegrar a festa e entusiasmar a tourada a banda ia atacando com os pasodobles, sonoros, ritmados: La camparena, Manolete, La cumparsita, Suspiros de España... já não sei se foram por esta ordem, mas estes alguns dos que me lembro terem sido tocados.

O segundo touro, agora lidado por um "rojeneador" das bandas de Cáceres, teve o mesmo comportamento: manso perdido. A dificultar o toureio do cavalo, quase impedir o cravar dos ferros e a tornar, de novo, a pega difícil. Além de não se ter cansado, a cornadura estreita  daquele quadrúpede exigia um forcado de caras magro para caber na armação. E tinha manhas, o malandro, investia de cabeça baixa e levantava-a derrotando facilmente o frágil forcado. Teve de optar-se pela cernelha, facilitada porque o animal se ligou bem aos cabrestos.

Sem flores e sem volta, um agradecimento no centro da praça...

E mais uns pasodobles...

E o terceiro, o quarto, o quinto touros, tudo a mesma coisa... de touros apenas o nome.  E, à medida que a corrida esmorecia, a banda atacava com mais força, com mais veemência, com mais entusiasmo...

O sexto já não chegou a sair... coxeava! 

Mas já não fazia diferença. O que era para ter sido uma tourada acabou num concerto da banda...  que passou a tocar outros temas, tangos, chá chá chás, habaneras, marchas populares, até o ode à alegria...

... É que no meio de tão pouca tourada e de tanta banda esta esgotou o seu reportório de pasodobles.



  

sábado, 26 de junho de 2010

O CONCERTO

A música era dos Pink Floyd, mas ele não era muito dos Pink, era mais homem dos blues, do Jazz, frequentador habitual do Hot Club.

Mas, naquela noite, tinha recebido o convite, não podia faltar, o seu amigo Eduardo ia tocar. Era num convento, nos claustros, em ambiente de verão, com calor húmido e ar abafado. Estava marcado para as 21 horas. 

A trovoada chegou cedo. Forte, de estalar os ossos, de iluminar dias de sol, ensurdecedora, acompanhada de chuva e de granizo de bolas, daquelas que fazem mossa nas carroçarias dos automóveis, partem vidros, desfrutam as árvores, arrasam as alfaces e aniquilam o que ainda resta das framboesas.

A luz, como sempre sucede, desmaiou com o susto e não quis acordar da sua letargia. Diz-se que foi um disjuntor na sub-estação; sempre o mesmo disjuntor a acarretar com as culpas.

A cidade às escuras, sem electricidade e sem luz, e com uma chuva medonha; e, assim, não houve a réplica dos Pink Floyd!

Foi para casa, lentamente, na escuridão e com chuva forte, iluminando as curvas da serra com os faróis brancos de xénon do carro.

Chegado a casa, ligou o gerador eléctrico e, calmamente, bebendo um Porto solitário, deixou-se ficar a escutar o piano de Keith Jarrett,  no Concerto de Colónia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

NOVOS PERCURSOS

Não vou alinhar na história do "chip" enquanto puder. 

Sinto-me violentado na minha qualidade de cidadão. À Via Verde aderi porque quis, ninguém me obrigou. Agora isto do "chip", ainda por cima a ser vigiado e controlado por socialistas, isso não!

De modo que, pelo sim pelo não, comecei a arranjar alternativas às SCUTS do guterres e do sócrates (porque eles é que foram os mentores - a A23 que liga Torres Novas à Guarda, e serve toda a zona da Beira Interior de Castelo Branco e da Covilhã, é e vai continuar a ser gratuita, curiosa e coincidentemente as áreas de influência destes dois "xuxialistas").

Agora ando tranquilamente por boas estradas do interior, poupo quilómetros e não pago nada para os cofres deste estado socialista.

Claro que não vou dizer por onde vou (não vão eles chipar-me as estradas por onde ando) mas, como dizia o Régio no seu Cântico Negro (um luto bem apropriado),

...Não, não vou por aí! (por onde eles querem).
Só vou por onde me levam meus próprios passos!



 

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O ÓSCAR


Já não me lembro como apareceu.

Alguma doente ou alguma colaboradora que o trouxe...

Veio num aquário, daqueles de forma esférica, do tamanho de uma bola de futebol, era vermelho e muito pequenino.
O aquário era o seu mundo e o seu limite. 
Quem ficou a tomar conta dele foi a minha secretária, a Vanda, uma cabo-verdiana de olhos lindos e um sorriso sempre pronto.

Com as pétalas de comida que lhe eram dadas todos os dias foi crescendo e a ficar grande demais, para o seu mundo esférico e transparente, e resolveu-se a compra de um aquário adequado ao seu tamanho de adulto, daqueles com filtro e bomba de ar.

Nunca tinha tido um nome. Achámos que, com a casa nova, deveria ser baptizado e, por consenso, ficou a chamar-se Óscar.

E assim, sem ter que ir ao notário, pagar sisa ou renda mensal, o Óscar ganhou, de uma assentada, nome de gente e uma casa nova.

Viveu bastantes anos; não sei se feliz ou infeliz, nunca nos disse do seu estado de espírito mas, de certeza, fez-nos companhia, acompanhou muitas das nossas conversas, das nossas preocupações, festejou, também, as alegrias e, quando havia um lanche de aniversário, ou de Natal, era certo que, nesses dias, tinha direito a umas migalhas extras.

O Óscar, no seu silêncio, com o seu olhar sereno, com os seus movimentos de requebros, com o ondular das barbatanas foi uma fiel companhia.

Até que um dia, ao chegar de manhã, dei com ele a boiar, inerte. E vi duas lágrimas a escorrerem dos olhos da Vanda.

Nesse dia, ao almoço, em vez do habitual peixe grelhado pedi  rolo de carne. É que me sentia como que com uma espinha atravessada na garganta.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

DOM PÉRIGNON

Hoje apetece-me beber champagne, bem gelado, "pétillant" numa "flute".

Apetece-me comemorar à vida, à liberdade, ao sol que começa a aquecer o Verão.

Acordei assim, bem disposto, pronto para mais um dia, a sorrir, a olhar as mudanças que se aproximam, a pensar de forma positiva.

Por isso comemoro com champagne e nada melhor que um Dom Pérignon para certas ocasiões especiais...

Já agora com uma boa companhia e um chocolate para tornar ainda mais doce o momento!



terça-feira, 22 de junho de 2010

O AVANÇO DA TECNOLOGIA

Mais uma benesse!
Vamos passar a ser "chipados"!
Acho que são coisas boas demais.
Para além de lixados, agora somos chipados!
Obrigadinho, óh sócrates!

Por enquanto coloca-se o "chip" no pára-brisas do carro - só não percebo porque é que, os que não têm carro, não têm chip? Uma injustiça!

Mais tarde, se o sócrates ainda estiver à frente do governo, o chip passa a colocar-se por baixo da pele, na testa, para que possa ser facilmente reconhecido pelos identificadores, que vão estar instalados em todo o sítio: nos transportes públicos, nos restaurantes, nos sanitários, nos bares, nos locais de trabalho... 
Assim, o BIG BROTHER pode-nos vigiar e pode-nos taxar a seu bel prazer.

Acho que devem ter ido beber esta ideia aos cães... uma vez que já quase todos são chipados.

Quando me obrigarem a usar o chip, vou pedir ao meu veterinário para mo colocar: é que ele já tem muita  experiência e os meus cães não se queixaram, nem o chip infectou no local onde foi aplicado.

O Hitler, como não conhecia a tecnologia do chip, mandava tatuar um número no braço das suas vítimas para serem facilmente reconhecíveis.

Não há dúvida,  o avanço da tecnologia não pára!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

GEL



















Quando a pandemia da gripe estava nos jornais, nas televisões, nas conferências de imprensa da ministra da saúde ou do director geral de saúde, toda a gente andava de frasquinho de gel hidroalcoólico para desinfectar as mãos e não havia local ou bancada que não tivesse frascos doseadores para as pessoas se desinfectarem e, até, máscaras. 

Agora, que ninguém pensa mais nisso, é ver desses frascos ou suportes, ainda por muitos sítios, mas vazios ou com ar de abandono.

Foi, como muitas coisas da nossa vida, um acto de paixão, de entrega a uma causa mas que, com o correr do tempo e sem haver mais motivação, se  vai abandonando.

Espero, ao menos, que nas escolas as crianças tenham adquirido esses gestos de boa higiene e que perdurem. Mas para tudo é preciso persistência nos actos, nos exemplos, e que devem vir de quem os deve dar: os educadores, os professores, os pais (alguns! porque nem todos, infelizmente, o são capazes), a sociedade em geral.

De facto, se não apostarmos nas crianças, se não lhes incutirmos as normas de bem viver, de educação, de cultura, nunca teremos homens amanhã.

Foi o que ainda não se fez após 37 anos de 25 de Abril; por isso, tudo continua na mesma e as crianças de agora, os homens do nosso futuro, vão aprendendo  os bons exemplos que vêem no dia a dia: primeiros ministros que mentem e persistem na mentira, favores políticos que são generosamente pagos, justiça que não  funciona nem quer funcionar, corrupção por tudo quanto é lado, esbanjamento dos bens públicos, faces ocultas, processos de pedofilia que não têm fim, um mundo de aparências  baseado na perversão dos valores éticos, no  "mais vale parecê-lo que sê-lo", no tal "mudam-se os tempos, mudam-se as verdades" do mário soares...

Pena o gel não servir para limpar esta nódoa imensa que fizeram do nosso Portugal.

domingo, 20 de junho de 2010

O VERÃO

Entra-nos pelo calendário a renovar mais um ciclo da vida terrestre, a significar calor, férias e praia.
É o costume para a grande maioria das pessoas, ou melhor, costumava ser. Eram chamadas as férias grandes.

Antigamente as férias grandes implicavam quase sempre um mês  na praia, depois um mês, ou mais, no campo, geralmente em casa dos avós e, se o tempo sobrava, esse período podia ser prolongado.
As aulas acabavam em Junho e  recomeçavam em Outubro, eram, mesmo, umas grandes férias e umas boas as férias de verão.

Claro que agora já não é assim. Houve mudanças, adaptações escolares e, sobretudo, sócio-económicas.

A vida alterou-se, o dinheiro não sobra, as férias diminuem, e tanto a Costa da Caparica, como a linha do Estoril são, agora, o garante da praia de muita gente. Não se aluga casa,  usam-se os transportes públicos, comem-se umas sanduiches, umas cervejas e uns tremoços e fica feita a festa.

Tudo se modifica e adapta e, com as novas expressões associadas à tecnologia qualquer dia até o nome desaparece e as férias passam a chamar-se "período de afastamento anual da actividade produtiva dos trabalhadores".

Aconteça o que acontecer eu não vou prescindir das minhas férias!

sábado, 19 de junho de 2010

ZAPPING

Hoje não vale a pena fazer.

Cada vez que se carrega na tecla do comando da televisão vamos ao encontro de Saramago.

Apesar da muito polémica que este homem polémico gerou à sua volta, é incontestável a sua obra, um legado para a humanidade.

Deixo, no silêncio da minha escrita de hoje, a homenagem a quem levou o nome e o respeito de Portugal, no campo da literatura, ao resto do mundo.

Que descanse em paz!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

VISEU

Viseu traz-me sempre muitas recordações.

Uma delas é aquela cantiga e lenga lenga do "Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu, encontrei o meu amor, ai Jesus que lá vou eu...".

Depois, porque a Viseu estou ligado por laços geográficos e familiares.
A minha família materna e paterna é de Mangualde, e Mangualde fica perto de Viseu. E em Viseu vivia uma tia, a tia Elisa, num local chamado Moinho de Vento, onde agora existe o hotel Monte Belo,  de onde estou a escrever este  texto (coincidências?).  Também, em Viseu, vive o meu primo Ricardo, médico ainda no activo e que já passou largamente a barreira dos 80 anos, e a quem me ligam laços da mais profunda amizade, assim como os meus primos, Fernando e José, ambos também médicos, e meus companheiros de aventuras do Fiat 500.

Mangualde e Viseu sempre foram terras rivais: Viseu era cidade, capital de distrito, e Mangualde, no tempo da minha infância e juventude, era uma vila, mas com mais indústria que Viseu e era e é em Mangualde  que fica a estação de comboios da linha da Beira Alta; uma estação importante em termos comerciais, como entreposto de carga e descarga de materiais, e de passageiros, pois quem ia de comboio para, e de, Viseu tinha de descer na estação de Mangualde. E era nesta estação que estavam as duas locomotivas, no tempo das máquinas a vapor, sempre em carga, para substituição dalguma que se avariasse ao longo do trajecto entre a Pampilhosa e a Guarda: uma linha quase sempre a subir, pois a Guarda fica situada acima dos mil metros de altitude.
A rivalidade era de tal ordem que era costume dizer-se que, "em Viseu, cão sim homem não, e em Mangualde, nem homem nem cão".

Quando era miúdo, o que mais gostava quando ia a Viseu, era ir a casa da tia Elisa,  irmã solteira da minha avó Isabel, a mãe do meu pai. Tinha uma empregada que se chamava Ifigénia mas que, apesar do nome fazer lembrar uma bruxa ou  mulher má, daquelas de lenço preto na cabeça e verruga num nariz adunco, era uma pessoa sem nada de lenços ou de verrugas, alegre, simpática e muito cordial. A tia Elisa tinha uma espécie de estufa cheia de avencas e presenteava-nos, sempre, com um refresco de capilé, com limão: uma delícia!
Em Viseu fiz o meu exame do segundo ano do Liceu como aluno do colégio de São José, em Mangualde.

Viseu, uma cidade cheia de história, de monumentos, com uma Sé Catedral monumental e o Museu Grão Vasco, é hoje uma cidade linda, limpa, arranjada e cheia de rotundas que disciplinam o trânsito, diminuem a velocidade de circulação dos carros e facilitam a vida aos peões.

Hoje vim aqui assistir ao 1º Congresso de Pneumologia do Centro e assistir à homenagem a um colega de Coimbra que acabou de jubilar-se. 

Claro que aproveitei a ocasião para rever a já pouca família que ainda resiste à interioridade e ver as duas casas de família que ainda conservo. 

É sempre bom vir às origens! Obrigado Viseu por me teres feito voltar aqui.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

ANDAR A PÉ E O UNTAR DAS MÃOS

Parece que o tempo acertou, meteorologicamente falando; o calor começou a notar-se, o vento já  não é tão frio e as noites vão armazenando parte da temperatura conquistada ao dia e já se tornam agradáveis e convidativas.
Agora já sabe bem andar a pé. Deixa-se o carro na garagem, à porta de casa, e calcorreia-se a distância entre esta e o trabalho. Cerca de 3 Km em passeios, alguns com muitos buracos, atravessares de ruas, túneis de passagem nas avenidas mais largas e um cruzar de pessoas de todos os tipos: gordas e magras, brancas, negras, morenas ou pálidas, cabelos curtos ou compridos, apressadas ou apenas passeantes de rua e é curioso ir observando esta multitude de gente que passa diante de nós. Que tipo de trabalho exercem? De onde vêm? São famílias grandes ou pessoas solitárias?
A maior parte deve ter salários baixos... 
Imagino-as formigas oriundas de diversos locais no carreiro dos passeios, empacotadas nos comboios que vêm de longe, muitas a entrarem no formigueiro do Metro e a enlatarem-se nas carruagens e a entalarem-se, algumas, nas portas que se fecham impiedosamente.
Entre as 7 e as 9 horas da manhã e depois, das 17 até às 20 horas, é um afã de gente nesta urbe que quase sufoca.
Mas estas caminhadas a pé também nos dão tempo para ver o que habitualmente não vemos, quando conduzimos: por um lado os jardins que começam a ser renovados e a tornarem-se bons locais de lazer, depois os monumentos que são, de um modo geral, bonitos e atractivos - acho uma maravilha a estátua que homenageia os mortos da Guerra Peninsular, ali em Entre-campos -, e a arquitectura urbana heterogénea e, muitas vezes caótica, feita de prédios antigos bonitos, arranjados e, alguns, premiados com o Prémio Valmor, mas também de edifícios em total degradação e ruína, ou edifícios modernos, elegantes e adaptados ao ambiente arquitectónico do local ou, ainda, de aberrações difíceis de entender como puderam ser aprovadas e construídas (claro que todos bem entendemos, tudo depende da forma como são untadas as mãos dos fiscais, dos projectistas, dos arquitectos, dos... da Câmara Municipal).

Este untar das mãos faz-me lembrar a história que ouvia da boca do tio Justino, casado com uma prima-irmã da minha avó, a tia Ester, e que viveram muitos anos em África, no Congo francês. Contava ele de um vendedor de tecidos que apresentava aos patrões, em França, uma factura sui generis -
tantos metros de seda X francos, tantos metros de cambraia Y francos, tantos metros de popeline para camisas Z francos, e etc., até à alínea final em que colocava sempre: óleo (huile no original) tantos francos. O patrão, em França, intrigado perguntou para que era preciso tanto "huile" se o comércio era de tecidos? Para untar as mãos daquela gente toda, respondeu o funcionário, se não, ninguém comprava nada.
Agora não se gasta "óleo", as luvas são mesmo em Euros e à descarada. Há quem lhe chame contrapartidas e coloque o dinheiro em paraísos fiscais...
É no que dá isto de andar a pé: distraio-me a olhar alguns prédios aberrantes e lembro-me do tio Justino e da tia Ester.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

CABULANÇO

Foi feito um estudo nacional sobre cábulas.

Agora, que se aproxima o final do ano, que está perto o fim dos cursos, aumenta a batotice. 

A média nacional do copianço ronda os 60% e a desonestidade é maior entre os rapazes, que têm uma propensão à cópia em 20% acima das meninas.

E, se há cábulas por todo o lado, eles abundam mais nas zonas  desertificadas e pobres, é  assim que o Alentejo é a zona onde a cabulice domina - oito em cada dez! É obra!
Estes são os resultados de um estudo realizado nos cursos públicos de Economia e Gestão, publicado em Maio, no Journal of Academic Ethics.
E o treino começa logo na primária e na faculdade é "universal".
Num outro estudo, realizado na Universidade do Minho - "O copianço na universidade: o grau zero na qualidade "-  demonstra-se que três em cada quatro alunos universitários assumem copiar nos exames e 90% destes já trazia essa mania desde os tempos do liceu.

Para além dos copianços, ideia que deve vir dos copistas da Idade Média, há também quem utilize a técnica do fax - são os faxistas -. Estes inscrevem-se em Universidades criadas a propósito, têm professores que sabem de tudo, fazem exame aos domingos e recebem o diploma por fax.
Habitualmente são socialistas mas, no fundo, não sabem o que é ser social, porque o social deles tem a ver com as sociedades a que pertencem - da maçonaria ao copus gay - e com atitudes de olhar primeiro para o próprio umbigo e só muito depois para o "povoqueselixe".

Curioso que estes faxistas vão tendo, à medida que o tempo passa e o poder os corrompe, um comportamento homófono à sua condição (em vez do x passam a ch).

Também o adolfo dizia que era nacional e socialista... será que se pega?
Espero que não, oh zé!

terça-feira, 15 de junho de 2010

LEGO

Parece estranho um homem da minha idade falar de LEGO, uma forma de brincar e de construir as mais variadas coisas, de carros a foguetões, de casas a guindastes, de barcos a aviões, de qualquer coisa a uma coisa qualquer.

O LEGO consiste num conjunto de peças de plástico de tamanhos, cores e formas diferentes, mas que se adaptam facilmente umas às outras e que permitem a montagem de uma estrutura, de acordo com um plano que costuma vir na embalagem, ou conforme a  imaginação de cada um.

O meu primeiro LEGO SYSTEM era uma garagem com estação de serviço (ESSO SERVICE), bombas de gasolina e diesel, coluna para fornecimento de água e enchimento de pneus, um auto-tanque vermelho e um mastro com a bandeira da gasolineira. A garagem tem uma porta basculante, que abre automaticamente sempre que o auto-tanque ou outro veículo qualquer se aproxima da rampa: faz baixar o pavimento e a porta solta-se e vai para cima.

Ainda tenho o conjunto completo, a caixa de origem, as peças e as instruções de montagem.

É mesmo antigo, dos primeiros a aparecerem em Portugal, em 1955. Quase todas as peças são brancas, excepto as que fazem o rebordo do alicerce, que são vermelhas, A casa, em si, tem uma porta, uma "vidraça" que faz o ângulo junto à porta e duas janelas, brancas, como convém!

A tampa da embalagem, onde as peças são guardadas, recria um pedaço de um cruzamento, onde se situa a estação de serviço, mas a Kombi Volkswagen (também conhecida como pão de forma), a moto com o motociclista e a camioneta de carga não fazem parte do conjunto, assim como o sinal de perda de prioridade. Só estão lá para a fotografia!

Claro que esta estação de serviço foi montada e desmontada centenas de vezes.



Não foi, de modo nenhum, o meu primeiro brinquedo de construir, antes tive os cubos, arcos e paralelepípedos  de madeira, que davam para construir pontes, arcadas e fachadas de prédios, também ainda tenho o célebre MECCANO, este com peças metálicas, rodas, eixos, porcas e parafusos, alicates e chaves de porcas e de fendas e que davam para construir, também, quase tudo dentro do mundo mecânico.
Também os "puzzles" são uma forma de construir, ou melhor de reproduzir um quadro, uma paisagem, uma fotografia... aqui não precisa imaginar, basta ter olho para os rebordos e colocar a peça no sítio certo.

Mas a LEGO foi aquele brinquedo que fez despertar mais a minha imaginação, a mim e a toda a minha geração, assim como às seguintes. É uma marca que tem sabido perpetuar-se, apelando à criatividade, e adaptar-se aos vindouros. Soube crescer com inteligência, desenvolveu mentes e tornou-se, de tal modo universal que a palavra Lego faz parte do vocabulário em qualquer país e quase posso arriscar que não há menino por esse mundo (rico?) que não guarde uma peça LEGO.


segunda-feira, 14 de junho de 2010

AINDA FALTAM 15 MINUTOS

É o tempo que me falta até iniciar a minha consulta.

Estive ausente uns tempos e sabe bem voltar aos mesmos sítios, contactar e cumprimentar as empregadas da recepção, as técnicas do laboratório, as senhoras da limpeza, os seguranças...

Pessoas que conheço há bastante tempo e com quem se vai criando alguma forma de amizade, se vai sabendo dos filhos, dos pais envelhecidos, da saúde, do tempo incerto, das férias que estão a chegar e, agora, com o mundial a decorrer, se fala da bola, das entrevistas do Ronaldo, das opiniões do Queiroz, do frango do Green, dos golos da Alemanha...

Pois é! Fala-se disto e pouco mais. Não vejo as pessoas preocupadas com a vida real, com os aumentos dos custos, com o agravamento dos impostos, com as medidas de austeridade.

Até nisto o governo tem sorte e oportunismo: fala da crise e dos impostos na altura do Papa, implementa as medidas no momento em que as pessoas estão com os olhos postos no golo das vuvuzelas e, depois do mundial, com vitória ou sem vitória, vai tudo de férias.

Uma boa forma de impor medidas e associá-las a momentos de alienação: Fátima, Futebol e Férias, os tais três EFES adaptados ao momento.

Minha Nossa Senhora (Fátima), ora Bolas (Futebol), o tempo passou e os doentes ansiosos pelo início da consulta, é que estão com pressa e a pedir receitas em triplicado pois só cá voltam depois das Férias.

domingo, 13 de junho de 2010

O VERNIZ

O verniz é uma película de acabamento, quase sempre transparente, que se aplica habitualmente na madeira e serve para a proteger, dar a sensação de profundidade e algum brilho. 

Há quem prefira o verniz mate, ou seja, um verniz que protege mas não brilha.

Habitualmente aplica-se com um pincel ou, então,  à pistola.

Tem de se deixar secar, o que pode demorar mais ou menos tempo e, só depois, é que assume o seu papel de película protectora e a peça envernizada se pode, então, manusear à vontade.

Habitualmente é o próprio marceneiro, ou um pintor, quem costuma aplicar os vernizes.

Mas há, também, o verniz de unhas, ou esmalte, e que pode ser, desde o transparente brilhante ao opaco e das mais diversas cores. Agora, a moda, anda pelas cores fortes e chocantes.

Se bem aplicado resiste aos toques do dia a dia mas, com regularidade, tem de ser retirado e aplicado de novo. A acetona, ou contra-verniz, serve para retirar o verniz das unhas.

Mas o verniz tem um defeito...
... de vez em quando, estala!

Principalmente quando  surge uma contrariedade.

O estalar do verniz é sinal de  falta de educação, falta de dignidade ou de falta de "fair-play".

Ainda me lembro dos cornos dum ex-ministro da economia (quem recorda o nome?) na assembleia da república, ou do "vai mandar calar a tua tia" (daquele menor sócrates apanhado em mais uma mentira) ou do "porreiro, pá" (dito pelo mesmo personagem ao Durão Barroso, na assinatura do tratado de Lisboa).

Eu acho que a esta gentinha o verniz não estala. Sabem porquê?
Nunca ninguém lho aplicou, porque para haver este verniz é necessária a educação, a tal dignidade e, também, muito "fair-play".

E algum deles tem?


sábado, 12 de junho de 2010

AS CEREJAS

São como as palavras. Vêm umas atrás das outras.

Este ano, finalmente, a minha cerejeira expressou-se bem. Encheu-se de cachos de cerejas, escuras, cheias, reluzentes e saborosas.

Sofreu os seus anos de crescimento, mas agora, que se adultou, dá frutos melhores, quase de fazer inveja às de São Julião e às do Reia.

É a natureza sábia a saber crescer, a preparar-se para a sua vida e a vida da minha cerejeira é ir crescendo em tamanho e ramagem, para poder dar frutos mais abundantes, mais saborosos, mais apetitosos.

O mesmo não acontece, muitas vezes com as pessoas, crescem mal, deixam-se levar por ilusões, por paixões serôdias, por mitos...

Razão teve Ulisses quando pediu para o prenderem ao mastro do barco para que não fosse atrás do canto e dos encantos das sereias. Conseguiu chegar a bom porto! À sua Penélope de sempre!

Pena os Ulisses e as Ulissas  que se perdem porque não tiveram a força para se agarrarem à certeza da vida e agora, náufragos, percorrem o mar da vida agarrados a uma tábua que se vai afundando lentamente...


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sexta-feira, 11 de junho de 2010

CAVALO DE PAU

Tem uma crina de sisal, daquele com se fazem as cordas de atar os embrulhos grandes, a cabeça é em madeira, com um recorte na zona da boca, um furo no lugar dos olhos e as orelhas são dois pedaços de couro, em forma de folha e agrafados ao pedaço recortado de madeira que representa a cabeça e o pescoço.

A meio do pescoço um cilindro de madeira atravessa-o de lado a lado e é a peça que serve para segurar, com as mãos, toda a estrutura.

Do pescoço para baixo mais um cabo em madeira, do tamanho aproximado ao de uma vassoura, que termina em duas rodas, também de madeira.

Tem a cor castanha escura conseguida após várias demãos de viochene.

Habitualmente está encostado à parede, entre o pilar da estante dos livros e uma arca antiga, também de madeira; serve como elemento decorativo.

Mas há vezes, quando um miúdo aparece, sai do seu lugar de repouso e é usado para cavalgadas imaginárias, com passos de trote no "picadeiro" frente à garagem, ou galopes pelo resto da quinta, mas que nunca podem ser longos porque o passo está limitado ao tamanho da perna do cavaleiro.

Comprei-o numa feira de artesanato, não me lembro onde, e comprei-o porque, quando o vi, vieram-me à memória períodos de infância em que me via, agarrado ao cabo de uma vassoura, a cavalgar pelos montes e vales do corredor de casa dos meus avós, brandindo uma espada de madeira a espadeirar imaginários inimigos numa batalha solitária, sem guerreiros e sem outros cavalos.

Fazem bem os recordares, os avivares da memória, o voltar à infância, à juventude, o retornar aos percursos da vida, e ver como crescemos, por onde andámos, aprender com a experiência passada, com os erros que cometemos. 
É que a vida para trás não é só saudade é, acima de tudo, experiência, é vivência, é aprendizado.

De vez em quando faz bem ir lá atrás, ao corredor da vida, e trazer para fora o que julgávamos esquecido e ajustá-lo nas ocasiões adequadas.

Por isso temos memória... e este cavalo de pau tem-me ajudado a ir, muitas vezes, ao fundo daquele corredor.


(DO AUTOR - CAVALO DE PAU)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A CHUVA

O tempo continua doido!

Chove, faz sol, vem calor de Verão, faz frio de Primavera, vem vento, e uma pessoa sem saber o que vestir, o que levar na mala, que sapatos calçar...

Acho que as estações acabaram, tal como as do caminho de ferro.

As do tempo, a Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno estão bem descritas nos livros, bem desenhadas em muitos romances, bem musicadas nas "quatro estações" de Vivaldi ou cantadas por Sandy, bem pintadas nas telas de Arcimboldo.

Mas a Meteorologia não se interessa por isso: deixa os calendários, nas datas certas, baptizarem as estações, mas não liga nada, indiferente, superior, pouco interessada; e se é preciso sol para as cerejas, toca de descarregar uma saraivada de gelo!, se as alfaces necessitam de uma manhã húmida e fresca, sem despudor, atira-lhes um sol impiedoso. Até os meus "frambósios, os do senhor Zé", andam tristes e pálidos!
Bolas para a meteorologia!
Mas esta desculpa-se com o anti-ciclone dos Açores que anda num vai-e-vem de loucura o qual, por sua vez, se desculpa pela nuvem do vulcão da Islândia, de nome inenarrável - Eyjafjallajokull -, que alterou as pressões, o vento, as correntes...
Enfim, como os elos de uma corrente, uma desculpa segue atrás da outra e ninguém é responsável.
Já estamos habituados. 
Os custos ficam para quem tem de andar na rua, quem trata os campos, quem transporta, quem constrói, quem faz e trabalha...

Hoje está de chuva e de sol, de vento e de calma, de fresco e de calor... um ano inteiro num dia!


Não admira...

Hoje é o Dia de Portugal. Da Diáspora. Dos Portugueses que engrandeceram e engrandecem a Pátria.
Não dos políticos, dos governantes que apenas nos diminuem, nos obrigam a pagar os males que nos fazem, mas que se sentam nos lugares onde outros deveriam estar sentados.

Deixo a homenagem aos Camões, aos Egas Moniz, aos Viriatos e aos Afonso Henriques, aos Vasco da Gama e a todos os Anónimos que deixaram em bom lugar o nosso nome.


OBRIGADO!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

OLÁ AMIGO

Mais um dia 9. Mais um aniversário, daqueles que ninguém gosta de festejar; continuamos nas contagens do tempo, pelo menos enquanto a nossa carne estiver agarrada ao coração, às saudades, aos afectos...
Todos os dias nos falamos, todos os dias os meus pensamentos têm um destino para ti.
O nosso compromisso continua vivo.
Mantenho-me fiel, atento e vigilante, como me pediste, como combinámos, embora mantendo toda a discrição. Não poderá ser doutra maneira.  Tu sabes bem porquê!
Estou fora dos teus locais, uma vez mais, mas sexta-feira as flores que vou enviar irão chegar ao destino. Espero. É que hoje já não vai dar e amanhã é feriado, aí, em Portugal.
Sempre  na recordação da minha mais profunda amizade. Um abraço!

terça-feira, 8 de junho de 2010

LONDON DOCKS

Descobri as St. Katharine's Dock, há já muitos anos.
Desde então tenho ido lá, sempre que vou a Londres.
Foram um entreposto de chegada muito importante. Pelos anos de 1830 tinham uma vida muito própria e eram o ponto de chegada de produtos nobres como chá, especiarias, mercadorias exóticas, mármores para a decoração das casas, até tartarugas vivas (para se transformarem em sopa de tartaruga!).
Depois, como sempre acontece, as coisas vão evoluindo e, o quase romantismo da chegada dos navios cheios de mercadorias vindas de longe, foi-se transformando num porto de chegada de contentores e foram ficando pequenas para a função. Foram fechadas em 1968.
Após uns anos de adormecimento, alguém resolveu reabilitá-las através de um projecto imobiliário bem conseguido, com zonas de comércio, de lazer, entretenimento, hotéis e um ancoradouro para iates.
O acesso pode ser feito por um comboio totalmente automático, sem condutor.
Tem excelentes restaurantes e sabe bem passar ali umas horas.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

LONDON TOWER

Mais um pouco menos de 100 anos e vai fazer mil anos. 
Sempre foi um local temido. Que ninguém pensasse em trair ou ameaçasse o trono: ia parar lá com os costados em pequenas células húmidas e escuras, cheias de sanguessugas e ratos. Raros eram os que conseguiam sair com vida  e, mesmo, antes de morrer eram torturados. Tétrico!

Desde o reinado de Carlos II, por volta de 1660, que guarda as jóias da Coroa e a colecção das armas. É, talvez, o local mais visitado: as filas, para a visita, crescem com o crescer do dia mas vale a pena a espera.

Da Torre fazem parte duas figuras: os "Beefeaters", um grupo de 35 Yeoman Warders que guardam a Torre e moram aí - agora tem uma mulher, de nome Maureen, que não é muito bem aceite pelos restantes colegas (homens), até aqui, nesta Albion tão democrática, o machismo impera -, e os Corvos, talvez os mais ilustres moradores; dizem que se eles se forem embora, o reino perecerá. Por isso têm as asas cortadas de um dos lados, o que torna o voo impossível... Mais vale prevenir...


Curiosamente os corvos são o símbolo de Lisboa... mas aqui a história é outra!






(do Google Imagens com a devida vénia)

domingo, 6 de junho de 2010

LONDON BRIDGE



Faz lembrar a Ponte Vecchio, sobre o rio Arno, em Florença. Mas só porque tem casas e lojas sobre a ponte.

Esta era muito mais comprida, com outra dimensão. Não só porque o Tamisa, nesta zona de Londres, deve ter o dobro da largura do Arno, mas também porque as casas eram muito maiores e projectavam-se dos dois lados da ponte; os comerciantes produziam, no local, as suas próprias mercadorias, morando nos andares superiores. Até uma tinha uma Capela, a de St. Thomas.
Esta ponte, a original, foi construída em 1209 e durou 600 anos. Conseguiu sair quase incólume ao Grande Incêndio, em 1666, apesar de muitos dos edifícios não terem conseguido resistir ao calor das chamas. Sobreviveu até 1831. Actualmente está no Arizona, nos Estados Unidos da América, para onde foi levada toda desmontada.

A Ponte actual ficou concluída em 1972 e está aqui, fotografada  no lusco-fusco.



sábado, 5 de junho de 2010

LONDON EYE

É uma roda gigante, enorme!

Sempre são 135 metros de diâmetro de uma roda assustadoramente grande de bicicleta.

Foi feita para comemorar a entrada no novo milénio.

Gira devagar, 30 minutos para um círculo completo e uma vista espectacular.

São 40 Km de horizonte que dão para ver a cidade toda, os campos e as montanhas que a rodeiam.

E dá para ver, com mais atenção, Westminster e o Parlamento, as enormes chaminés brancas da Power Station em Battersea e quase entramos na intimidade da Queen Elizabeth pois o Buckingham Palace fica mesmo ali, debaixo dos nossos pés.

Vale a pena o passeio nesta roda que gira sem sair do mesmo lugar... e gira e gira... e também é gira!







sexta-feira, 4 de junho de 2010

LONDON

Vai ser uma semana inglesa. Melhor direi, londrina.
E Londres está bonita.
A primavera no seu auge!
Os jardins bem arranjados, os greens perfeitamente "barbeados e escanhoados", as flores a darem o colorido na tela imensa dos parques de Londres.
Hoje andei pelo Hyde, onde bordejei a Serpentine e passei pelo Peter Pan.
Acabei por ir comer uma pie ao Old Swan e ouvir aquele pianista e "entertainer" que põe toda a gente bem disposta.

É sempre bom refrescar memórias...





CALOTEIRO

Acabei de ouvir na RTP Internacional:
O partido socialista deve mais do que todos os outros partidos juntos - a módica quantia de 35 milhões de euros no final de 2009. Mais, agravou a dívida, em relação a 2008 (um ano, pasme-se!), em mais 32 milhões (969,6 por cento).
E quem é o responsável? O pseudo-engenheiro josé sócrates, o secretário-geral do partido socialista. 
Como é que um tipo que nem sequer é capaz de gerir as contas do seu partido, gastando, esbanjando, comprando votos e eleitores, pagando favores, como é que um tipo deste calibre, ainda está à frente deste país?
Aliás toda a esquerda deve dinheiro: o partido comunista é o segundo partido com mais dívidas e até aquela coisa do bloco de esquerda  deve 1,7 milhões de euros.

Isto é que é gastar... viver à conta do povo que dizem defender. Sim, porque os partidos de direita esses é que exploram o povo.

E fica já aqui o meu aviso ao senhor sócrates, quando diz falar em nome dos portugueses, que faça uma ressalva, que diga que me exclui desse grupo porque eu NUNCA lhe passei nenhuma procuração para falar em meu nome.

É que eu SOU PORTUGUÊS, trabalho honestamente, pago os meus impostos (os mais caros da Europa) e não devo nem roubo nada a ninguém, nem pago favores milionários a ninguém. Além disso tenho um curso superior tirado numa Universidade Pública, sem exames de fax ou feitos ao fim-de-semana.

Entendeu, senhor sócrates?

OU PRECISA DE UM EXPLICADOR?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

CORPUS CHRISTI

Comemora-se hoje a festa do Corpo de Deus ou do Corpo de Cristo.
É uma daquelas festas móveis, como a Páscoa, que se  celebra sempre na quinta-feira a seguir ao Domingo da Santíssima Trindade, que é, por sua vez, o Domingo a seguir ao Pentecostes.
É uma festa litúrgica que serve para afirmar e confirmar a presença do Cristo Total (ou seja Deus) no pão consagrado na Eucaristia.
Foi instituída pelo Papa Urbano IV, no século XIII, mais precisamente com a Bula "Transiturus" de 11 de Agosto de 1264.
A História conta que um sacerdote, Pedro de Praga, tinha muitas dúvidas sobre a presença real do Corpo de Cristo na Eucaristia. Decidiu então ir em peregrinação ao túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o Dom da Fé. Ao passar por Bolsena, já em Itália, enquanto celebrava a Santa Missa, foi novamente acometido pela dita dúvida. E, na hora da Consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: a Hóstia branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal, os sanguíneos e as toalhas do altar sem no entanto manchar as mãos do sacerdote, pois, a parte da Hóstia que estava entre seus dedos, conservou as características de pão ázimo.
Por solicitação do Papa Urbano IV, os objectos milagrosos foram levados para a Catedral de Santa Prisca, em Orviedo, em grande procissão. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico.

Em Portugal, a festa do Corpus Christi começou a ser celebrada em 1282, por ordem de D. Dinis.
A festa  era antigamente celebrada com danças, folias, e procissões em que sagrado e o profano se misturavam. Representantes de várias profissões, carros alegóricos, diabos,  o dragão de São Jorge, gigantones, ao som de gaitas de foles e de outros instrumentos desfilavam pelas ruas.
Das danças dos ofícios ainda se celebra, em Penafiel, o baile dos ferreiros, o baile dos pedreiros e o baile das floreiras.
É no Minho que estas celebrações têm uma conotação muito forte, particularmente em Monção e em Ponte do Lima.
Em Ponte de Lima a tradição d´O Corpo de Deus perdura já há vários séculos. As celebrações do Corpo de Deus realizam-se durante todo o dia, havendo uma procissão da parte da manhã e outra da parte da tarde em volta da vila e uma missa, sempre ao meio dia, na Igreja Matriz.
Em muitas cidades ainda é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com colchas de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa.

(Procissão do Corpus Christi - Amadeo de Souza Cardoso - 1913 - Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão - Lisboa)