Nasceu de um gomo, de um parto quase violento, que libertou uma quantidade imensa de pétalas brancas, compridas, como dedos finos e delicados, que ficaram a coroar a haste verde durante todo o verão.
Linda que era, a flor...
E reinou, no meio do jardim, bem acima de tudo, a mostrar a sua coroa, a afirmar a sua nobreza, a chamar a atenção das abelhas, a cativar olhares, a despertar cobiças nas outras flores, mais rasteiras, mais modestas mas, também, flores.
Reinou enquanto pode, afirmou-se enquanto conseguiu, chamou a atenção das abelhas enquanto teve pólen, cativou enquanto deslumbrou até que, chegada a altura, começou a perder os dedos brancos, que foram amarelecendo, tornando-se grossos e encurvados, caindo no chão, atapetado de humildes florinhas cheias de cor...
E a flor, agora, em fim de estação, sem graça, a murchar no dia-a-dia, recolhe-se no anonimato e no quase desespero de se sentir ignorada e não olhada por ninguém, a fazer lembrar gente que se foi enchendo de importância, de balofice, encostada a um oportunismo de momento, frágil, inconsistente e inconsequente e que, por terem acontecido mudanças, por se terem alterado circunstâncias ou mudado apoios, voltam a ser as lesmas, invertebrados rastejantes, que lhe estão na massa do próprio sangue; não no carácter porque o não têm!
(DO AUTOR - AGAPANTO (OU COROA DE HENRIQUE) EM FIM DE ESTAÇÃO) |
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1 comentário:
Muito bonito, parabéns!
Ana Perestrello
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