terça-feira, 3 de abril de 2012

TROMBETAS

(do autor)
Quando era mais novo e ainda andava na escola primária, a rua que dava acesso ao colégio onde estudava tinha um muro totalmente revestido de uma trepadeira de abundante folhagem verde de onde, nesta altura do ano, emergiam estas flores azuis de pé comprido, a lembrar uma corneta, com os estames encimados por anteras compridas no seu interior, que lacrimejavam um líquido, adocicado e xaroposo, que era uma delícia. 

O nome que lhes dávamos era trombetas, porque o faziam e fazem lembrar as trombetas dos arautos. A net já me esclareceu: o nome científico é Ipomoea purpurea L. e são denominadas Glória da Manhã ou Cordas de Viola e as flores têm mesmo, conforme diz a Wikipédia, a forma de trombeta.

Como a parede, quase de um dia para o outro, ficava cheia destas flores azuis nós, os miúdos, íamos arrancando, do cálice, a flor e sorvendo o suco da parte inferior, como que sugando de uma teta... reminiscências do aleitamento da infância?

E era uma razia... dávamos cabo das flores até onde chegavam os nossos braços esticados! Para cima lá continuava todo o colorido azul das flores, o verde das folhas e os pontos amarelos saltitantes das muitas abelhas que, de flor em flor, competiam connosco na disputa daquele xarope doce e saboroso.

Quase uma selecção natural: até onde chegavam os nossos dedos esticados as flores desapareciam, ao mesmo tempo que iam, lá mais para cima, as abelhas que, assim, não nos picavam evitando os inchaços e o mal-estar causado pelo ferrão.

A Natureza a proteger-nos e a oferecer-nos, durante um curto período do ano, uma guloseima que, naqueles tempos de Quaresma, de abstinência e de jejum, em que nos sentíamos coibidos de comer doces, nos compensava dos rebuçados e das amêndoas que só voltaríamos a comer depois do sábado de aleluia!

Trombetas, também, a anunciar um novo ciclo de vida, o acabar de um período de sofrimento, de desagrados, para uma ressurreição, para um novo viver, para uma Páscoa a celebrar!

1 comentário:

Anónimo disse...

As vezes, apetecia-me ressuscitar mesmo, numa Páscoa de alegria e Paz.
beijos e boa Páscoa
Berta