sexta-feira, 20 de abril de 2012

APANHADO

Chegou pelo ar em voo rasante ao espelho de água daquela maré vazante. Pousou tranquilamente para não afastar o peixe, bem vermelho, que, desde lá de cima, tinha posto em mira activa.

Durante algum tempo deixou-se ficar quieta, quase imóvel, não fora a leve corrente a afastá-la da margem e, assim que tudo ficou aparentemente tranquilo, começou a girar em círculos amplos e lentos, persistindo na perseguição daquela mancha vermelha que, da amurada do cais, também se via no meio daquela água turva e com algumas algas. 


(do autor - foz do rio Minho)


De vez em quando mergulhava bem fundo a cabeça naquela água que ia escorrendo para o mar, levantava a cauda que ficava quase num pino, e voltava à posição inicial agitando o corpo em sacudidelas de água que salpicava em todas as direcções.

Até que, finalmente, depois de mais um mergulhar da cabeça, de mais um levantar de cauda, de mais um quase pino, traz no bico, bem pinçado, o peixe vermelho que tanto perseguiu, a agitar-se de corpo, a abanar-se de cauda, num desespero quase terminal.

Tudo se passou num instante! Assim que o peixe ficou aparentemente imóvel levantou a cabeça até o bico ficar a apontar o céu, numa vertical aprumada, e, numa fracção de nada, escancara bem a boca para deglutir, de uma só vez, o peixe que lhe iria servir de pequeno-almoço.

Mas, no momento do instante, como que adivinhando o destino fatal, num instinto de sobrevivência, aquele corpo vermelho contorce-se uma vez mais e, de um salto, mergulha rápido nas águas agora agitadas pelo passar de um traineira. 

Não ficou ali muito tempo, com um bater de asas possante levantou voo e foi, certamente, à procura de outros peixes, vermelhos ou não, para outras águas...


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1 comentário:

Anónimo disse...

Pobres peixes, tão vulneráveis. Até o senhor doutor o pescou com a câmara...
Bjs
Berta