O chá amornava na chávena enquanto esperava pela torrada e, também, olhava a tranquilidade do lago que ia reflectindo o azul límpido do céu e o verde das montanhas
que, do outro lado da margem ainda distante, se projectavam naquelas águas aprisionadas no meio dos Alpes.
Foi assim que deu por ele a vogar, solitário, vindo dos lados do Hotel du Lac em direcção ao cais dos barcos de recreio. Passou e, algum tempo passado, voltou; por várias vezes isso aconteceu, num vai e vem e num vem e vai, como se andasse a passear, sem hora e sem destino. De vez em quando soltava um grasnar - ansioso?, chamativo?, de aviso? - e lá continuava no seu ir e no seu voltar.
À medida que o tempo passava, à medida que o chá também ia ficando mais frio, reparou que ele olhava para todos os lados, especialmente para aquele céu azul, como procurando algo, como se andasse, ou nadasse, agora ansioso, à espera de um encontro que tardava.
(do autor) |
Pediu outra chávena e encheu-a do mesmo chá que se conservava, ainda quente, no bule de porcelana amarela. E, enquanto a enchia daquele chá fumegante, lhe adicionava uma gota de leite evaporado, e se preparava para mordiscar a torrada que, entretanto, o empregado lhe trouxera, ela chegou num vôo rasante que se continuou num deslizar exuberante e atrapalhado, num chapinhar de água a salpicá-lo, acabando, ambos, por se embrulharem num bater de asas amistoso, a provocarem espumas naquela água, agora agitada, e a emitirem grasnares fortes e aparentemente divertidos. Depois, como num bailado de coreografia bem estudada, correram sobre as águas, lado a lado, nos dois sentidos, tocaram os bicos, como se beijassem e, de novo, voltaram a grasnar de satisfação. Durou algum tempo este espectáculo gratuito, este dueto de primavera, este encontro bem celebrado, este namoro exuberante!
Depois, sem mais... partiram num levantar rápido daquelas águas azuis e verdes e subiram nos céus, num vôo nupcial que o fim de tarde quis esconder dos olhares que, daquela esplanada sobre o lago, os tinham acompanhado com curiosidade e agrado.
2 comentários:
A terna e doce simplicidade de uma história de amor natural. Pena os humanos complicarem tudo, não acha?
Bjs
Berta
Lindo! Uma feliz Páscoa. Beijinhos, lola
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