Foram-se enchendo devagar, os bagos daquelas uvas brancas de mesa, moscatel.
A videira, plantada há muitos anos atrás, foi crescendo em altura, sempre tratada e acarinhada pelo velho avô, e as uvas sempre foram abundantes e gradas. Na altura própria, iam-se colhendo os cachos, que se lavavam, não porque fosse muito preciso, mas mais para os refrescar do calor dos dias de verão. Assim, mais frias, as uvas ganhavam outro sabor e apeteciam muito melhor...
Quando chegavam os netos, nas férias do verão, saltavam para cima do banco de pedra e iam depenicando os cachos, bago a bago, causando, na zona de influência daquele banco, um desgaste prematuro da quantidade de uvas.
Era uma alegria, um contentamento, aquela casa, no verão, cheia de gente, feita de várias gerações...
Era uma alegria, um contentamento, aquela casa, no verão, cheia de gente, feita de várias gerações...
(DO AUTOR - MONSARAZ) |
Agora, que os velhos partiram definitivamente, ficou a casa, de banco vazio, de janela fechada, mas de cortina colocada, impecavelmente branca, como a avó se orgulhava!
E a latada lá continua, com as mesmas uvas doces, agora não tão cheias, nem tão gradas, porque deixou de ser tratada, apenas esperando a visita dos filhos e netos, emigrantes bem longe, que aparecem nesta época para matar as saudades, limpando e caiando a casa, e cuidando da cortina de renda da janela, trabalho das mãos habilidosas da velha avó, no tentar conservar uma vida e uma tradição que, cada vez menos, vai interessando as gerações mais novas...
gkjg
2 comentários:
Eu acho que é urgente despertar as novas gerações para alguns fascínios perdidos, como o de depenicar as uvas antes das vindimas...
Vou tentar fazer isso com os meus netos! é um pouco, acho, o reinventar da poesia.
Bjs
Luísa
Muito sensível... belíssimo texto...
Ana Hertz
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