Este ano, a velha figueira foi pouco pródiga em figos!
O habitual era começar a dá-los pelo São João e, até Setembro, era sempre um fartote!
Esta ano não! Os gomos dos frutos foram poucos, cresceram mais devagar e, muitos, caíram com as chuvas de Maio, com os ventos fortes de suão e com o temporal de granizo que desabou numa tarde de Abril!
Apesar de tudo a velha árvore, aparentemente, continuava no seu vigor, com os braços apoiados, é certo, como se usasse muletas, a imitar o plátano no centro da cidade! Uma figueira quase centenária!
Mas este ano... sinais dos tempos?... da força do clima?... ou da velhice?... não deu nada, ou melhor, não deu quase nada! Os poucos frutos que amadureceram não se podiam comparar com os dos outros anos: mais pequenos, menos cheirosos, menos atraentes, de pele mais espessa, incapazes de se abrirem numa oferta de tentação!
Porque lhe despertou mais a atenção, foi acompanhando o crescimento de um figo em especial, mais cheio que os outros, de aspecto suculento e, por isso, foi-o mantendo, sempre, debaixo de olho, deixando que se açucarasse, que engordasse e amadurecesse um pouco mais, até a pele ficar bem escura, quase a estalar de cheia...
E, naquele dia, quando o foi colher para o pequeno-almoço, ainda a manhã estava fresca e o sol já espreitava por entre os galhos e as folhas, ficou surpreendido! Um melro luzidio, de bico bem amarelo, estava a acabar a sua primeira refeição, a refastelar-se de gulodice, depois de ter cortado, com precisão, a capa já mole do figo e ter debicado o seu interior doce e melado que ele se preparava para saborear!
(DO AUTOR - DA FIGUEIRA)
A verdade é que, naquela manhã, o pão com manteiga e o café forte não lhe souberam ao mesmo!
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1 comentário:
Palavras diferentes das que usamos aqui...
Ana Hertz
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