Quando as tardes se alongavam, quando o tempo lhe sobrava, quando os sentires o exigiam, quando os pensares lhe pediam, ou quando apenas por lhe apetecer, era para ali que sempre ia.
E, mal lá chegava, ia sentar-se no banco de pedra, o mesmo banco em que a avó, quantas vezes se sentara, abandonando o cansaço da caminhada e apoiando o queixo no cajado de faia que a tinha ajudado a compensar as irregularidades do terreno, na subida do cabeço.
Naquela solidão escolhida, no silêncio que a natureza lhe consentia, ali ficava, em paz com o sítio, a olhar, distante, o recorte da Serra e o arvoredo denso das encostas e, mais perto, do outro lado da ribeira, a Casa da Máquina, pintada de um ocre já bastante desmaiado pelo tempo.
Ficava ali a olhar, a pensar, a sonhar ou, simplesmente, a esperar que o sol, atrás de si, se começasse a despedir, enquanto ia apreciando as mudanças das tonalidades, dos coloridos e das sombras que a luz, quase tangente ao horizonte, ia imprimindo na paisagem.
E só quando sol, sob a forma de um foco luminoso reflectido do vidro de uma das janelas da Casa da Máquina, do outro lado da encosta, lhe vinha beijar a face, numa despedida quase cúmplice, num até outro dia, é que se levantava daquele banco de pedra e regressava, nos seus silêncios e nos seus pensares, acompanhada do seu cajado de faia, à casa que, àquela hora se enchia dos barulhos da família reunida à volta da mesa para o jantar...
(do autor - Casal da Comenda) |
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2 comentários:
Belíssimo texto! Bravo! Beijinhos lola
Oi Raul que rica fotografia, com uma definição fantástica. Parabéns. Um abraço do Ramalho
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