Vão ser, se tudo correr bem!
Costumam ser brancas e doces... Quando estão maduras caem em cachos da latada e quase se não resiste em comê-las, directamente, no local.
Até se imagina o quanto não deve doer, ao cacho, o tirar-se-lhe, um a um, um bago de cada vez e, ainda ali, na sombra que as folhas proporcionam, mastigar e saborear aquela doçura que enche a boca de um paladar peculiar e único.
Sabem a moscatel, a morango, com toques de frutos exóticos... se fossem para fazer vinho ainda se teria que acrescentar, ao rótulo da garrafa, os aromas a chocolate negro e os toques da baunilha vindos do tanino do barril de carvalho francês em que teria estagiado durante seis meses.
Mas não, estas não são para fazer vinho, serão para comer...
Mas antes, ainda vão ter que crescer, serem protegidas do míldio e do oídio, dos insectos, dos pássaros e apanhar muito sol e calor para que possam amadurecer bem até que, finalmente, possam ser colhidas na altura apropriada.
(do autor) |
Hoje com os supermercados, com as uvas embaladas, normalizadas no tamanho, na cor e no peso, nem se imagina o que é a vida de um bago de uva, das vicissitudes porque passa, dos perigos que corre, do trabalho que dá até chegar ali, à prateleira, reluzente e pronto a ser comido.
Ao olhar aquelas uvas, ainda verdes, mas já tão bem definidas, lembrou-se da Fábula da Raposa e das Uvas do Esopo ou do La Fontaine que conta, para os que não sabem ou já esqueceram, a história de uma raposa, danadinha de fome, que ao passar por uma vinha carregada de uvas maduras e prontas a serem colhidas, se preparou para as comer. A verdade é que, apesar de múltiplas tentativas, não as conseguiu alcançar por estarem muito altas e acabou por se cansar e desistir, não sem antes dizer de si para si, numa espécie de auto convencimento e justificação do seu insucesso: "Estas ainda estão verdes, devem estar azedas e duras, só mesmo os cães as devem conseguir tragar".
Só que, desta vez, a raposa teria razão! Estas ainda estão mesmo verdes!
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