Sentou-se a seu lado, na sala, junto à esplanada onde, secretamente, se costumavam encontrar.
As flores que ele lhe trazia, ela deixava-as no colo, suavizando de aromas doces, aqueles momentos... mas sempre, de olhar atento, com medo, de alguém aparecer, como que a querer preservar aqueles momentos de pura intimidade.
As flores que ele lhe trazia, ela deixava-as no colo, suavizando de aromas doces, aqueles momentos... mas sempre, de olhar atento, com medo, de alguém aparecer, como que a querer preservar aqueles momentos de pura intimidade.
Diziam, falavam, prometiam, juravam... trocando beijos abraços e carícias e enlaçavam as mãos em afectos de amor!
(do autor) |
Ali, no ponto de encontro habitual, sempre, na mesma mesa, por baixo do emblema do Porto de Lisboa... à beira do Tejo!
"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembras-te-às de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-às suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
in Ricardo Reis (Fernando Pessoa) - Vem sentar-te comigo, Lídia
.
.
3 comentários:
Quem me dera ter desses encontros de mãos enlaçadas à beira Tejo.
Beijos
Berta
Ponto de encontro... ponto de partida, ponto de chegada... ponto para ficar...
Abraço
LM
Eu gosto mais do Porto do Porto, ou não fosse tripeira
Enviar um comentário