terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PERÚ

Naquele Natal fartou-se de perú. Foi perú na véspera, foi perú no dia de Natal, foi perú no dia a seguir e perú no dia a seguir ao dia a seguir.



Perú assado, perú recheado, bifes de perú, strogonoff de perú, perú com laranja, perú com batata frita palha, perú com puré de castanhas, perú com...

Parecia não poder livrar-se do perú. E, tão cedo, sabia que o perú havia de dominar parte das refeições: é que a empregada tinha já preparado os croquetes com a carne que restou e já os tinha posto a congelar...

Até o vinho tinto lhe fazia lembrar o perú... no glú glú de o beber do copo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que engraçado. Fui educada pela minha avó materna, Laura, hoje com 92 anos, nos anos 60 e 70. Geria uma casa com 3 netos, dois netos e um genro que teimava em convidar todos os miúdos da vizinhança lá para cá.
- Minha mãe, as crianças estão bem é umas com os outras. Todos da mesma bugalha.- Era a justificação recorrente do meu pai quando a minha avó insistia que não podia dar comida a tanta gente.
Mas lá fazia, refeições atrás de refeições, umas que nós gostávamos e outras que não mas tudo o que sobrava nas travessas já sabíamos que ia aparecer no dia seguinte apresentado de outra maneira e se mesmo assim não ainda sobrasse o destino final eram croquetes.
Era um aviso constante dado às empregadas mais descuidadas:
-Isso não é para desperdiçar. Guarda-se para croquetes. Olha que a vida não está nada fácil.
E nós, os três irmãos de idades muito próximas nem ousávamos questionar a visão da vida ou autoridade da avó. Apenas quando vinham amigos almoçar ou jantar connosco suplicávamos meio divertidos:
- Por favor comam tudo, senão vamos comer croquetes disto o resto da semana.
E o almoço tanto podia ser carne, como peixe cozido, como grão com atum. Era uma graça nossa. Uma forma de lidarmos com a que por vez dureza sentíamos na nossa avó tão empenhada em nos dar um boa educação que se esquecia que em todas as regras com que educamos temos de incluir a possibilidade de as mudar, tornar menos duras ou mesmo ignorar numa situação especial.
Comentário de uma neta de 50 anos que adora a avó e em tantos pequenos nadas do quotidiano, como hoje ao ler este blog, se lembra dela e na maravilhosa infância que lhe assegurou quando a mãe, a sua filha, partiu.