segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O CARRO

Precisava desesperadamente de um.

O outro, avariara, o conserto era caro, não tinha dinheiro para o pagar. E decidiu vendê-lo.  Encontrou quem o comprasse, mesmo com defeito, e sempre ficava com algum dinheiro para as despesas mais curtas.

Podia ser que ainda sobrasse algum dinheiro para o imposto, aquela anormalidade que tinha que pagar todos os anos e que sempre lhe custara, não só pelo dinheiro, mas pela injustiça que  se achava estar a ser vítima.

Agora andava mais a pé, não tinha outro remédio! Fazia o seu "footing" obrigatório e começou a notar que o peso ia diminuindo, as roupas a ficarem folgadas, as calças a terem espaço na cintura, o cinto a ter que ser apertado um ou dois furos abaixo, com mais roupa e menos corpo.

Para quem andara durante anos a tentar perder peso, a comer menos mas mal, a fazer caminhadas inglórias por não regulares ou não persistentes, a comprar todos os tipos de dietas que prometiam perder este peso e o outro, a tomar chás verdes, brancos, oolongs, agora, apenas pelo facto de ter ficado sem carro, a perda de peso tornou-se consistente, a alimentação passou a fazer-se de maneira mais racional, o humor melhorou, voltou a alegria, deixou de ter depressões e até voltou a usar roupa que colocara de lado porque  tinha deixado de caber lá dentro.

E pôs-se a fazer contas: não mais gastos com combustível, nada de seguros, fim às revisões e reparações, sem suplementos dietéticos caríssimos, sem ter que comprar roupa nova, talvez que tudo poupado desse para pagar o que devia. 

Agora anda mais confortável na vida, sem aflições, com menos peso e com mais auto-estima.

Afinal para que precisava de um carro? 

  

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