sexta-feira, 19 de março de 2010

GALILEO GALILEI



Pisa continua com a Torre inclinada. Cada vez mais! Mas está de cara lavada. Branca como nunca tinha sido vista assim, mas ainda de andaimes no quarto andar. Cá em baixo, uma barreira de protecção impede que os milhares de turistas, que a admiram e fotografam, se aproximem demais, não aconteça a queda de algum objecto do local onde ainda as obras decorrem.
Rafaello, com o seu fato-macaco branco imaculado, limpava uma roseta em calcário com uma esponja apropriada, previamente mergulhada em água saponificada com pó de esmeril. Era como uma lixa muito fina que ia retirando o negro da poluição daquelas pedras expostas a um ambiente cada vez mais poluído e corrosivo e, ao mesmo tempo que branqueava a pedra, deixava na sua superfície, ao secar, uma película protectora que atrasava o desgaste da mesma, pelos agentes poluentes. Especializou-se na recuperação de imagens e figuras em relevo feitas em pedra mármore. Já trabalha nesta arte há mais de 20 anos e é considerado um perito na matéria.
O dia tinha acordado risonho de sol, os turistas e estudantes começaram, cedo, a visita ao Campo dei Miracoli: o Baptistério, o Duomo e o cemitério do Campo Santo, juntamente com a mais famosa torre do mundo, constituem o conjunto arquitectónico daquele local. Um conjunto admirável de mistura de elementos mouriscos, como os embutidos de mármore em arabescos geométricos, com delicadas colunas românicas e esguios nichos e pináculos góticos.
As pessoas aglomeravam-se à volta da Torre, os guias com as bandeirinhas, os girassóis de plástico ou outro objecto apelativo, lá iam arrebanhando os seus turistas e explicando o que interessa saber sobre a história da construção da Torre e da sua inclinação. Uma senhora, de alguma idade, mais afoita, passa a barreira frágil que impede o aproximar da Torre e tenta a fotografia única e espectacular, não só pela proximidade mas pela perspectiva de inclinação que aquele local lhe podia proporcionar. Não se apercebeu de qualquer protesto ou aviso para que se afastasse do local. Mas, lá no alto, Rafaello, bem gritava e gesticulava cá para baixo para que a senhora saísse daquele sítio, bem na perpendicular dos seus objectos de trabalho e que repousavam no parapeito da varanda, tão inclinado como a Torre. A altura a que se encontrava e o barulho lá em baixo, não deixavam que a sua voz se fizesse ouvir. Então, num gesticular mais exuberante de desânimo, ou não fosse italiano este Rafaello, bate com a mão esquerda no balde cheio daquela água com esmeril ao mesmo tempo que larga a esponja que tinha na sua mão direita. Ambos os objectos chegaram ao chão exactamente ao mesmo tempo, a fazer lembrar a experiência realizada por Galileo Galilei, no Século XVII, sobre a queda de corpos de pesos diferente, numa clara demonstração que a lei da gravidade (ainda desconhecida naquela época) é imutável.
A senhora, que já estava do lado de fora da cerca junto do seu grupo excursionista, não se apercebeu nada do que se passou e, muito menos, desta original demonstração acidental da lei da gravidade.

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