Quase ia tropeçando naquela planta, ou passando-lhe com o pé, bem por cima, pisando-a. Uma planta bem viva, ainda pequenina, a rebentar de um chão feito de pedras inanimadas.
Não fora o sol do fim da tarde a prolongar-lhe a sombra, a inclinação da luz a acentuar-lhe o verde, tornando-a mais visível e, certamente, aquela planta teria morrido esmagada sob a sola das botas rudes e pesadas que levava nos pés.
Estranho, nascer nesta época de fim de ciclo, na altura da queda das folhas, do desembaraçar dos ramos das árvores, do murchar do mundo vegetal.
De certeza que a semente estava já a aquietar-se para o inverno frio, que costuma ser, a esconder-se da luz, sob a protecção daquelas pedras, à espera de uma primavera prometida para mais tarde... Mas não foi assim que aconteceu!
Depois daqueles dias de chuvas e do fresco a anunciar o outono, o tempo quente voltou a aparecer enganando a semente que, ao sentir o calor das pedras protectoras, começou a germinar com força, iludida pela falsa primavera acontecida.
Por enquanto não deu pelo engano e lá vai crescendo, destemida e ousada, no meio daquele deserto de pedras soltas, a afirmar-se oásis de vida e de verdura.
Veremos até quando...
(DO AUTOR - ALGURES EM SINTRA) |
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2 comentários:
Um belo texto que aponta ao fenómeno mais belo: a reafirmação da vida. Grande abraço.
Mesmo que dure pouco, valeu a existência...
Ana Hertz
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