"...
Na noite calma,
a poesia da Serra adormecida
vem recolher-se em mim.
E o combate magnífico da Cor,
que eu vi de dia;
e o casamento do cheiro a maresia
com o perfume agreste do alecrim;
e os gritos mudos das rochas sequiosas que o Sol castiga
—passam a dar-se em mim.
E todo eu me alevanto e todo eu ardo.
Chego a julgar a Arrábida por Mãe,
quando não serei mais que seu bastardo.
A minha alma sente-se beijada
pela poalha da hora do Sol-pôr
sente-se a vida das seivas e a alegria
que faz cantar as aves na quebrada;
e a solidão augusta que me fala
pela mata cerrada,
aonde o ar no peito se me cala,
desceu da Serra e concentrou-se em mim.
E eu pressinto que a Noite, nesse instante,
se vai ajoelhar...
… … … … … … …. … … … … … … …
… … … … … … …. … … … … … … …
Ai não te cales, água murmurante!
Ai não te cales, voz do Poeta errante!,
- se não a Serra pode despertar."
Sebastião da Gama - Serra-Mãe.
(DO AUTOR - O CABO ESPICHEL, A PONTA MAIS OCIDENTAL DA SERRA DA ARRÁBIDA NO SEU MERGULHO MARÍTIMO, O MERGULHÃO NO SEU VOO RASANTE E O CRISTO-REI, AO FUNDO, A ABRAÇAR O MUNDO) |
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4 comentários:
A fotografia quase parece um desenho a carvão. Que serenidade, que paz... e eu que tanto preciso!
Bj
LM
Vou confessar uma coisa do meu provincianismo: Nunca fui ao Cabo Espichel, nem a Sesimbra... e olhe que já andei lá por perto, a deliciar-me com as tortas de Azeitão.
Linda a foto, a transmitir mistério...
Bjs
Berta
Olá Raul
Fotografia e texto lindos, parabéns muito bem escolhido, como sempre!
Bjs
Ana
A fotografia é um achado! O poema é lendo, claro. E triste.
um beijinho
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