Andava de desejos, de desejos fortes, sentia que estava de novidade.
Primeiro tinham sido aqueles enjoos, aquele mal estar matinal, aquela aversão aos ovos estrelados, e ela que gostava tanto de uma alheira com ovo estrelado, depois aquele apetite por kiwis... eram três ou quatro por dia, até que enjoou.
Tudo isto no espaço de umas duas semanas... num repente.
Hoje deu-lhe o apetite de coisa nova, mas não sabia o quê: picou uma pêra, não, goiabada, também não, queijo fresco, nem isso, batata frita... muito salgada, araruta, deixou-lhe a boca seca, chocolate, muito doce.
Abria lata, fechava caixa, mordiscava uma bolacha, provava daqui, provava dali, mas nada a saboreava, nada a satisfazia...
Só faltava a lata das línguas de gato! Ali, bem diante dela, vermelha, na prateleira da despensa. Sempre, com línguas de gato!
Pegou na lata, sentou no sofá, a ver a novela, abriu a tampa e tirou uma... pôs na língua como uma hóstia, a comungar o prazer, uma, duas, três...
e a novela a mostrar as paisagens do rio Araguaia, de encantar os olhos...
e outra, mais outra, e os dedos a tocarem o fundo da lata, nem mais uma... apenas as migalhas...
Adivinhou os desejos... simples, tão simples como as línguas de gato da velha lata vermelha!
2 comentários:
É bom quando os desejos se realizam com línguas de gato...
Pois é,mas quando as línguas de gato,não chegam para os realizar,lá terá que ser o gato todo:))))
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