segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A CÓMODA

Descobriu-a num antiquário, ali, na rua de São Bento.

Era linda, em nogueira, estilo Dom José, com dois gavetões enormes e duas gavetas gémeas em cima. O tampo em mármore, de um rosa velho, caía bem com a cor da madeira de nogueira.




Imaginou-a no quarto, encostada no canto esquerdo da parede do fundo, diante da cama. Ficava bem, a contrastar com o amarelo ocre das paredes e o branco dos lençóis da cama.  - Sim, cama onde dormisse tinha que ter lençóis brancos. Era tão exigente nisso dos lençóis que quando ia para um hotel ou fazia uma reserva, a primeira condição era que os lençóis fossem brancos.- E ali, onde imaginava que pudesse ficar, a cómoda iria equilibrar e harmonizar os tons e as cores do quarto. No outro canto já tinha pensado em arranjar uma senhorinha em veludo, no mesmo rosa velho do mármore, e um cabide, também em madeira de nogueira, onde ele podia colocar o casaco ou a camisa que iria usar no dia seguinte.

Naquela noite, depois de um jantar romântico, à luz de  velas brancas, deitaram-se ambos na cama de ferro, de branco pintada, e feita de lençóis imaculadamente brancos, naquele quarto sem móveis onde faltava ali, naquele canto, à esquerda, ao fundo da cama, uma cómoda Dom José, com um tampo de mármore rosa velho.

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