sábado, 31 de agosto de 2013

SEQUÊNCIA 1


Esta foi a primeira foto: uma gaivota voando sobre as águas... 

E, à sua superfície, qualquer coisa sulcando, deixando um rasto riscado... um peixe? 





(DO AUTOR - SEQUÊNCIA 1)



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CATANDO



E por ali estavam, catando comida, esgravatando o lodo, virando o limo, ...

E por ali continuaram, comendo o almoço, o peixe morto...

E por ali ficaram, paradas, olhando o mar...

E dali partiram, de novo, a voar...



(DO AUTOR - CATANDO COMIDA)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

FORTALEZA


O acto mais específico da fortaleza, mais do que atacar, é aguentar, isto é, manter-se imóvel em face do perigo.

São Tomás de Aquino

Não sejas forte como uma onda que tudo destrói,  mas sim como uma fortaleza que tudo suporta.

Autor desconhecido


(DO AUTOR -  FORTE DE SÃO JOÃO DO ESTORIL)


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MAR SONORO


"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim."

Sophia de Mello Breyner Andresen - Mar Sonoro - Dia do Mar, in Obra Poética.


(DO AUTOR -  REFLEXOS)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

FIM DE TARDE

Gosto dos fins de tarde assim, serenos, coloridos, redondos...


(DO AUTOR - FIM DE TARDE NO CANAL DE OLHÃO - ILHA DA CULATRA)


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

MEIA LUA


Levantou-se tarde, já o sol tinha partido há um bom bocado...

Ainda há uma semana estava gorda, cheia, resplandecente, agora emagreceu, está quase pela metade... E, pelos vistos, diferente, a piscar o olho, pronta a sair para festejar mais uma noite...


(DO AUTOR - UMA MEIA LUA A SORRIR À NOITE)


domingo, 25 de agosto de 2013

A CADEIRA


Aquela cadeira, que ali foi posta, não o foi, apenas, para uma pessoa, nela, se sentar e, muito menos, para, simplesmente, descansar...

Quem a colocou ali foi para, ao se sentar nela, alongar o olhar para lá do horizonte, deixar-se embalar no baloiço das marés, ora a subir e ora a baixar, ver as ondas, sempre diferentes, no seu constante chegar e vê-las, de novo, a voltar, ouvir o marulhar das águas quando vêm beijar a praia, na baixa-mar, escutar o grito das gaivotas e o pilreio das andorinhas do mar...

E, também se sentou nela para, certamente, meditar, para deixar que os sonhos a levem para algum lugar, para escutar as auroras e ver o seu acordar ou, então, deixar-se ficar à espera das cores que, no final do dia, surgem silenciosas e vêm, suavemente, o céu pintar...

A verdade é que, àquela hora do dia, em que nada acontecia, a cadeira estava vazia...
    


(DO AUTOR - CADEIRA SOLITÁRIA A OLHAR O MAR - ILHA DA CULATRA)


sábado, 24 de agosto de 2013

INSÓLITO


Insólito é, como dizem muitos políticos e comentadores, ver um porco com asas e a voar, insólito é, também, e como diz o povo,  as galinhas terem dentes...

Insólito é também, ver uma bicicleta em plena ria de Olhão, plantada num poste no meio da água...

Será o dono um equilibrista falhado, ou um ciclista frustrado?

Vale pelo insólito e pelo inesperado...


(DO AUTOR - INSÓLITO E INESPERADO)

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

TAL CÃO, TAL DONO...


"Tal dono, tal cão"! É costume dizer-se...

E não parece haver muitas dúvidas que as pessoas arranjam um cão de companhia em função da sua personalidade, da sua maneira de ser e, até, da sua condição física: um praticante de boxe nunca iria ter, como cão de companhia, um chihuahau: um boxer assenta-lhe que nem uma luva; tal e qual como uma "madama" ou uma "tia" das de Cascais, ou de outra terra qualquer, prefere, mil vezes, a companhia de um yorkshire terrier à de um rafeiro alentejano...

Mas a inversa também pode ser verdadeira... Tal cão, tal dono!

Uma destas tardes, numa pequena esplanada na Ilha da Culatra, onde tudo é pequeno e à escala do tamanho da ilha, estava um grupo de velejadores, de nacionalidades diferentes, a maioria alemães, à volta de duas mesas bem cheias de garrafas de cerveja ("Honi soit qui mal y pense"). Um dos convivas, sentado de costas, tinha junto a si um cão, com a trela presa à sua cadeira. O cão era cinzento, de pelo curto e só os pelos do focinho, como se fosse uma barba, é que eram mais compridos. A trela era também cinzenta, quase da cor da pelagem, e tinha uma coleira azul. Apesar de ter os movimentos limitados - apenas podia dar dois ou três passos para cada lado -, mesmo assim, mexia-se bem e estava atento a tudo o que se passava... A maior parte do tempo ficava imóvel, como um cão de caça, parado, a olhar uma presa, de olhar fixo, indiferente a tudo, mesmo aos outros cães que por ali passavam. Só perdia as estribeiras e se agitava todo quando uma determinada senhora passava diante dele levando, pela trela uma caniche branca, toda bem cuidada e extremamente feminina, provavelmente com o cio! Nessas alturas o cão passava-se (e ela passou, pelo menos, quatro vezes diante dele), rodava sobre ele próprio, enrolava-se na trela, fazia gincanas por entre as pernas do dono e da cadeira, abanava a cauda, curta e bem levantada, e, depois da passagem da dona e da cadela, quando já mais nada podia fazer, punha-se a ganir, num tom agudo e lamurioso como se fosse uma carpideira em dia de funeral...

E o dono, de cabelo curto, quase rapado, grisalho, de barba da côr do cabelo, vestido com uma T-shirt cinzenta da côr do pêlo do cão, com riscas azuis da cor da coleira, assemelhava-se, em quase tudo ao cão... Também ficava tempos longos quieto, quase parado, olhando, talvez, o infinito do mar, aparentemente alheio à conversa que decorria naquela mesa, apenas virando a cabeça quando passava a tal mulher com a cadela diante de si... Nessas alturas acompanhava o seu passar com a cabeça, agitava-se na cadeira e quase se levantava, indiferente à conversa e aos comentários dos amigos. Só não gania... mas rosnava de inquietação assim que a mulher desaparecia do seu campo de visão...

Tal como o cão...

(DO AUTOR - NA CULATRA - TAL CÃO, TAL DONO)


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A LIÇÃO



Empurrou a manete para diante, deu a força máxima ao motor e o barco começou a avançar determinado com o cabo a esticar-se. Na outra ponta, quase submersa, apenas com a cabeça e a pontas dos esquis de fora, numa posição encolhida, quase fetal, ela aguardava, com os braços flectidos, que a pega, que as suas mãos agarravam firmemente, a traccionasse e a fizesse levantar e deslizar sobre as águas que, naquele lugar, quase pareciam um espelho.

"Não deixes esticar os braços, mantém-nos flectidos, não deixes o corpo vir para a frente em demasia, nem o deixes ficar para trás..." 

Estava ali tudo presente, todos os "não deixes" que lhe tinham ensinado e, aparentemente, gritavam agora do barco lá na frente. Mas ela não ouvia nada, tal era o barulho do motor, o ruído das águas que ela rasgava com os esquis e o corpo ainda meio submerso... apenas a determinação de se levantar e deslizar, finalmente, sobre as águas lisas que aquela extensão de água apetecia...

Mas, sempre que se levantava, caía. Primeiro para a frente, depois para trás... E, de cada vez, o ritual de abrandar a marcha do barco, descrever a curva de modo a deixar a pega do cabo junto dela, alinhar as posições, novo arranque, novo puxar e nova tentativa de a levar a sair da água...

E já com o sol quase a desaparecer num lusco-fusco mágico de cor e de sombras, numa derradeira tentativa, consegue emergir das águas deixando-se levar num passeio deslizante sobre as águas daquele mar chão! 

Afinal, parece que tinha aprendido a lição!

(DO AUTOR - APRENDENDO A ESQUIAR EM PLENA FOZ DO ARADE)


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

LUAR


A lua surgiu de mansinho, quase sem se anunciar, apesar de deslumbrantemente cheia!

Subiu nos ares e foi indo, pelo céu acima, até se encostar à genoa enrolada e por ali ficou, quieta, hesitante, sem saber se se devia deixar ficar, assim encostada, num descanso tranquilo depois da subida, ou então se, como uma criança brincalhona, se deixava escorregar pelo plano inclinado que o pano da vela convidava.

Mas, não! Continuou o seu caminho na placidez de mais uma noite de luar, resplandecente.

E, assim, se cumpriu o desígnio dos astros!


(DO AUTOR - O LUAR DE AGOSTO)


terça-feira, 20 de agosto de 2013

BOCA DE CENA


Vem o fim da tarde, o sol começa a desaparecer para lá do poente e as silhuetas de quem passeia no paredão fazem lembrar personagens de um teatro de sombras chinesas a se cruzarem na boca de cena de um palco imaginário.



(DO AUTOR - PASSEANDO NO PAREDÃO)



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ARRIFANA


Mais um dia, mais uma faina, mais trabalho e mais peixe.

Todos os dias, todo o ano, sempre que o mar deixa... E hoje, mais uma vez, o mar deixou!

E o sol na despedida do dia que já partia, tratou de doirar o céu e as águas do rio-quase-mar, prenunciando um encher das redes que hão-de trazer o ouro da vida daqueles pescadores... 


(DO AUTOR - NA DESPEDIA DO DIA QUE JÁ PARTIA...)


domingo, 18 de agosto de 2013

DAS UTOPIAS


"Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Mário Quintana - Das utopias


(DO AUTOR - O FIRMAMENTO DISTANTE)







sábado, 17 de agosto de 2013

MORTES ESTÚPIDAS





Ourique chama as atenções! Não por coisa boa, mas por coisa má. Melhor (ou será pior?), por coisas más!

Em dois dias seguidos, na mesma estrada, quase no mesmo local dois acidentes com automóveis, dois choques de frente (colisões frontais é mais tecnicamente correcto). No primeiro dia, morreram dois dos acidentados, no segundo dia, hoje sábado, dos oito intervenientes, morreram sete. Assim, de uma penada. Num dos carros, o vermelho, iam cinco jovens, três moças e dois rapazes, todos na casa dos vinte anos. Vinham de férias e iam ter com as suas famílias. Uma ultrapassagem mal calculada, excesso de confiança, ou sei lá o quê, a verdade é que não ficou nenhum vivo para contar...

Dói de saber, dói de ouvir contar, dói de ver...

aos pais daqueles jovens dói também, muito, imenso! 

Fico espantado como é que em dois dias se dão 700 acidentes neste pequeno país quase à beira-mar plantado... Algo corre mal nas nossas estradas... Não sei de quem é a culpa... Mas não será também, em grande parte, de nós todos, os que conduzimos? Não será porque não fazemos o pisca quando mudamos de direcção ou de faixa, porque insistimos em circular pela faixa do meio quando a da direita vai sem ninguém, porque ultrapassamos largamente os limites de velocidade recomendados, porque julgamos que a estrada é só nossa e os outros que se acautelem, porque nos fazemos à estrada cheios de stress, com álcool, com sono, com os pneus em mau estado, com o carro mal acondicionado, porque não suportamos ver um carro à nossa frente e ultrapassamos sem as devidas precauções, porque julgamos que o nosso utilitário é um carro de alta performance, porque fazemos da estrada uma pista de corridas, porque ao volante pomos cá para fora todas as nossas frustrações, porque somos egoístas... ?

Que estas mortes estúpidas, ao menos, valham para alguma coisa, para que tomemos consciência do que estamos a fazer quando estamos com um volante nas mãos... E para isso, terá sido necessário terem morrido, assim, tão estupidamente, estes cinco jovens?  

(COM A DEVIDA VÉNIA - DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS)



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

TELHADOS


"Se tu me amas, ama-me baixinho.
Não o grites em cima dos telhados.
Deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."

Mário Quintana - Bilhete


(DO AUTOR - TELHADOS... EM GUILFORD - UK)







quinta-feira, 15 de agosto de 2013

TRILOGIA



O Tejo ali, diante, a Torre aqui, mesmo em frente, deste lado do rio e, lá longe, na margem de lá, o Cristo-Rei num abraço universal, saudando mais um dia de sol e de luz!

Uma trilogia de água, de pedra e de luz!






(DO AUTOR - O TEJO, A TORRE, O CRISTO TRILOGIA DE UMA CIDADE ÍMPAR)


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MANHÃ CEDO


Manhã cedo e a cidade ainda dormia!

Àquela hora, o silêncio acontecia e apenas era interrompido pelo alegre chilrear da água fresca que caía daquele chafariz...

São assim os acordares da cidade neste tempo de verão!



(DO AUTOR - O ACORDAR DO DIA NOS SILÊNCIOS DO JARDIM DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA)





terça-feira, 13 de agosto de 2013

MAS A RIBEIRA SECOU...


"Na ribeira que secou
Bebia o gado que eu tinha;
Quando chegava a noitinha,
A voz das águas chamava,
E o rebanho que pastava
Deixava os tojos e vinha.

Eu próprio molhava as mágoas
Na pureza da nascente;
Metia as mãos docemente
Na limpidez da frescura,
E as carícias da corrente
Davam-me paz e ternura.

O gado, farto, bebia;
E eu deixava-me correr
Naquele suave prazer
Que me levava consigo...
Eu não tinha que fazer,
E o gado tinha pescigo.

A noite, então, vinha mansa
Cobrir a lã das ovelhas;
Era um telhado de telhas
Furadas ou embutidas
De luzes muito vermelhas
Por todo o céu repartidas.

E aquela viva irmandade
Do rebanho e do zagal
Era ali tão natural
Que apagava dos sentidos
A saudade do curral
Feita de sono e balidos.

Mas a ribeira secou.
Não sei que praga lhe deu
Que no leito onde correu
Há pedras e maldição...
E o meu rebanho morreu
de sede e de mansidão."

Miguel Torga -  Écloga (20 de Maio de 1943)


(DO AUTOR - A RIBEIRA DE NISA - O NASCENTE QUE AGORA SECOU)







segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A VIDA É BELA O MAIS É NADA


"Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, deixe-se acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda a parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque, elas precisam de correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave! Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milénio é outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se chega a parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe que ele viva sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure as suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Procure, procure sempre o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem se esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procura os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alugue seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa de voltar, volte!
Se perceber que precisas de seguir, siga!
Se tudo estiver errado, comece novamente.
Se tudo estiver certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor não se perca!
Se o achar, segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe, e cala.
O mais é nada."

Fernando Pessoa - O Mais É Nada.






(DO AUTOR - A VIDA DEVE SER BELA, VISTA DO ALTO! EM CORUCHE)

domingo, 11 de agosto de 2013

SOL DE POUCA DURA


O dia foi muito quente, de novo! Temperaturas elevadas, próximas das do corpo humano, o ar seco a obrigar a beber muita água, para compensar as perdas, o sol intenso com níveis muito elevados de raios ultra-violetas, por todo o país... Até em Sintra!

Mas foi sol de pouca dura! De repente, quase inesperadamente, o sol tolda-se, o ar arrefece, o nevoeiro cerrado chega e traz gotículas de água fria que até sabem bem quando tocam a pele escaldante...

Só em Sintra, assim, este sol de pouca dura!


(DO AUTOR -  SINTRA ESTA TARDE EM DIA DE IMENSO CALOR)


sábado, 10 de agosto de 2013

ESFARELADAS?



De manhã ainda tinham viço, mas assim que o calor apertou, o vento seco as agitou e lhes roubou a pouca água que tinham, começaram as esfarelar-se, a perderem a substância, a tornarem-se múmias em flor!


(DO AUTOR - ESFARELADAS PELO CALOR)



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

SABE BEM


Sabe bem sentar à sombra fresca das margens do açude e ficar, tranquilamente, a olhar o reflexo pacífico daquelas águas...





(DO AUTOR - ÁGUAS TRANQUILAS NUM AÇUDE À BEIRA TEJO)


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O FIM DO DIA


Voltou o calor de Verão, daquele mesmo quente, que abrasa, que seca a boca e torna o respirar mais difícil.
 
E prometem mais...
 
E só lá quase no fim do dia é que o sol se resolveu tapar com algumas nuvens perdidas no céu como que a esconder-se, envergonhado, pelo tanto calor que fez chegar cá abaixo!


(DO AUTOR -  O SOL, NA DESPEDIDA, A ESCONDER-SE ENVERGONHADO)


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

BEIJO



"Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda Palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar..."

Alexandre O'Neill - O Beijo, in "No reino da Dinamarca"


(DO AUTOR - CONGRESSO DE GAIVOTAS NO TEJO)








terça-feira, 6 de agosto de 2013

UM AMIGO


"Um amigo... racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. Empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão.

Duas dúzias de amigos, assim, ninguém tem. Se tiver um, ámen".

Martha Medeiros



(DO AUTOR - POR AÍ NO PORTUGAL PERDIDO)











segunda-feira, 5 de agosto de 2013

AS NUVENS


Cada vez que vou para os lados de Sintra e me ponho a olhar o Castelo da Pena lembro-me dos Açores e da Ilha do Pico, com o seu Piquinho.

Não porque o Piquinho tenha lá um castelo ou um palácio no topo, e também não porque o Palácio tenha um pico, embora, na verdade, tenha uma torre que bem pode fazer de pico. A analogia tem, essencialmente, a ver com as nuvens que por lá passam, sem hora marcada, sem quase se anunciarem...

Num momento olha-se para o palácio e lá está ele, majestoso, resplandecente nas suas cores, com as suas janelas e torreões, a desenhar-se, num perfil nítido, no azul do céu... e, logo depois, misteriosamente, desaparece, fica tapado, escondendo-se atrás das nuvens e perdendo-se no nevoeiro branco...


(DO AUTOR - EM SINTRA, O PALÁCIO DA PENA ENVOLTO NAS NUVENS DO MISTÉRIO)
No Pico passa-se, exactamente o mesmo, como uma réplica, mas sem o palácio e o seu colorido, apenas com o seu Piquinho! Cinzento, da cor da lava vulcânica, a desenhar-se, inconfundível, no azul do céu... umas vezes a ver-se, outras a esconder-se...

Como em Sintra...    

(DO AUTOR - A ILHA DO PICO E O SEU PIQUINHO E AS NUVENS DO MISTÉRIO)
... ou será, como no Pico?






domingo, 4 de agosto de 2013

VOZES DO MAR


"Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...

Tu falas de festins e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!"


Florbela Espanca - Vozes do Mar


(DO AUTOR - CARAVELA PORTUGUESA)











sábado, 3 de agosto de 2013

O ÁLCOOL E A ALEGRIA NO TRABALHO


Uma empresa de resíduos despediu um empregado, na sequência de um acidente com um camião, por se ter verificado que apresentava uma taxa de alcoolemia de 1,79 g/l. Esse trabalhador, que andava frequentemente alcoolizado, de acordo com a empresa, "incorreu de forma culposa em gravíssima violação das normas de higiene e segurança no trabalho que lhe são inerentes".

Parece não haver dúvidas, para o cidadão comum, da justa causa do despedimento.


Mas não foi essa a opinião do colectivo dos juízes do Tribunal da Relação do Porto que resolveu anular esse despedimento e obrigar a reintegrar o trabalhador com o argumento de que "com o álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegria da imensa diversidade da vida, o público servido até pode achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo e um excelente e rápido removedor de electrodomésticos".

O dono da empresa, claro, ficou deveras surpreendido com tal acórdão prometendo fazer tudo para que o trabalhador não seja reintegrado "até por uma questão de bom senso" questionando "como poderia funcionar a empresa se os seus 200 empregados andassem a trabalhar alcoolizados" e acusou os juízes "de falta de bom senso e de ética profissional".

E então não é que a Associação Sindical dos Juízes Portugueses,  na pessoa do seu presidente, não lhe deu já uma reprimenda?

Com governantes que estão metidos, até às orelhas, nos casos das "SWAPS", com tanta trapalhada e confusão que anda por esta terra e, agora, com decisões como estas, em que beber álcool é bom porque dá alegria no trabalho... eu vou fazer como no Fado da Mariquinhas e vou é dar de beber à dor... "pois dar de beber à dor é o melhor, já dizia a Mariquinhas".

(DO AUTOR - A DAR DE BEBER À DOR OU BEBER PARA ALEGRAR?)









sexta-feira, 2 de agosto de 2013

AS ILHAS


"Navegámos para Oriente -
A longa costa
Era de um verde espesso e sonolento.

Um verde imóvel sob nenhum vento
Até à branca praia cor de rosas
Tocada pelas águas transparentes.

Então surgiram as ilhas luminosas
De um azul tão puro e tão violento
Que excedia o fulgor do firmamento
Navegado por garças milagrosas

E extinguiram-se em nós memória e tempo".

Sophia de Mello Breyner Andresen - As Ilhas (1977)

(DO AUTOR - AS ILHAS LUMINOSAS)

















quinta-feira, 1 de agosto de 2013

HORASBESCAS


À primeira vista parece um arabesco! Um arabesco feito, não  para enfeitar uma parede, mas para servir de suporte a um relógio, também ele, meio arabescado, diferente, com umas horas estranhas que andam, quer para a frente, quer para trás, sem tempo nem tempo, irregulares, desacertadas, desconcertantes, como o próprio relógio.

O Múzeum Hodin é um museu, de relógios, precisamente! Uma casa cheia, repleta de maquinismos, prontos a dar horas, mas que nenhum as vai dar, porque estão parados, expostos, atrás de vitrines e escaparates. Todos, parados, à mesma hora, às 10 para as 2!

Só os de parede e os de pé, de pêndulo, é que estão a trabalhar e lá vão tique-taqueando o tempo a dar as horas. E, quando chegam as horas certas, batem-nas ao som de dlins, ou de dlãos... todos, juntos, ao mesmo tempo, numa sonoridade metálica que enche todo o espaço, que reverbera e ecoa pelas paredes, chegando até à rua... e animando aquele relógio, lá fora, feito de horas e de arabescos e que só sabe dar, certamente, horasbescas.


(DO AUTOR - RELÓGIO DO MUSEU DAS HORAS DE HODIN - BRATISLAVA)