Tive vários... todos de madeira e do tamanho adequado à concha da minha mão... Foram-se perdendo uns, outros ficando com rachas mais ou menos profundas no corpo bojudo quando eram picados pelos dos outros que os atiravam com força e pontaria para cima dos que estavam a girar no chão, outros, ainda, surripiados pelos mais velhos que, por uma questão de tamanho e imposição, simplesmente os apanhavam do chão, enquanto rodavam e os metiam ao bolso... Como se fossem abafadores a "abafarem" os berlindes.
O que ainda tenho é de madeira clara, com uma ponta metálica boleada, sulcos concêntricos no corpo, para ajudar a agarrar a corda que o faz girar e o topo, pintado de vermelho, que serve de pega.
Tão, ou mais, importante que o próprio pião, é a corda, ou baraço, que se enrola à volta do pião de baixo para cima. Assim preparado, e com jeito, atira-se o pião, com energia suficiente e uma leve rotação, e ele aí vai pelo ar, até bater no chão onde fica, a girar, a girar rápido até ficar quase como que imobilizado rodando sobre o seu próprio eixo de ponta metálica...
Podia-se, com a mão aberta, tentar apanhá-lo deixando-o, depois, a rodar na palma da mão, passando-o, de seguida, pela cabeça de cada dedo voltando depois à palma da mão, até que o giro de rotação começava a diminuir acabando por tombar...
Havia quem o atirasse ao ar, o tornasse a apanhar com a corda e o lançasse, de novo, ao ar apanhando-o com a palma ou as costas da mão...
Jogar ao pião era, de facto, quase uma ciência, uma habilidade, que requeria muito treino e paciência... E não havia recreio na escola em que não se fizesse uma roda em que cada um mostrava as suas habilidades ou tentava picar o pião dos outros...
O pião, hoje, faz parte da arqueologia lúdica, como o berlinde, o arco, a bilharda e tantas outras formas de ocupar os tempos livres...
(DO AUTOR - O VELHO PIÃO COM BARAÇO NOVO) |
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