segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A ONDA

Passou a manhã junto ao paredão, tinha saído cedo de casa, o dia a prometer vento, chuva, fúria, instabilidade.

Gostava do mar assim, bem agitado, cinzento forte, revoltado, a espumar fúria e raiva, com ondas longas e massivas, a baterem forte nas rochas e a desfazerem-se em leques de espuma branca.

Sentou-se no muro velho, testemunha de muitas tempestades, paredão que, muitas vezes, impediu o mar de passar mais além e ali ficou, ele e o mar, a olhá-lo, não em desafio, mas em contemplação, em recordações de outros mares, de outros ventos, de outras tempestades. Mas lembrava também momentos de acalmia, momentos e tempos de paz, em que navegava tranquilo nos sonhos da vida.

Agora ali, com o vento a castigar-lhe o corpo, com a chuva a escorrer-lhe pelo casacão impermeável, ouvia o rugido do mar, como se estivesse numa sala de concerto a escutar uma música  furiosa mas que lhe transmitia, paradoxalmente, a paz capaz de calar e silenciar a sua solidão, a sua angústia.

E ali ficou, quieto, só, toda a manhã, até a maré começar a baixar, até o vento acalmar, até as ondas amansarem, até ver que os barcos ficaram mais tranquilos... agora, sim, podia ir, o seu mar amansara e ele partiu sossegado...


    

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