domingo, 10 de outubro de 2010

AMANHECER

Amanheceu como já não era costume, de capacete, cinzento, feito de um nevoeiro cerrado, a deixar o chão húmido, escorregadio, a amortecer os sons, a prolongar os silêncios, a cheirar a paz de outono. Sem vento, sem movimentos...

Saiu de casa pela mesma hora, quase só ele, a estrada deserta, um cão a cheirar a berma húmida, um melro pousado no ramo de uma figueira de caminho.

Enquanto descia a serra, à medida que se aproximava da cidade, o dia clareou, deixou ver as casas, o branco dos edifícios, o sorrir do sol a acordar, a vida a mexer-se junto ao mercado. 

Foi à bica, à boleima quente e, da janela do mercado, olhou a serra ainda adormecida e envolta na sua manta cinzenta de nevoeiro... de certeza que os cães ainda estavam a dormir, enroscados, tal como os deixara ao sair.

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