sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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Vinham carregadas, escuras, em amontoados velozes, empurradas por um vento inquietante. A atmosfera sentia-se! O ar turbulento, agitado, com um cheiro quase metálico impregnava as narinas.

De repente o clarão, forte, como o de um flash disparado em cima dos olhos acompanhado, quase em simultâneo, de um estrondo seco, estalado, potente, de rebentar os tímpanos.

Cegara e ensurdecera momentaneamente. Ficaram-lhe estrelas e luzes a balançarem-se dentro dos olhos, zumbidos e campainhas dentro dos ouvidos e a cabeça a doer fortemente e a latejar.

Tudo tão violento e brusco que nem se apercebeu que tinha sido empurrado e caído ao chão. Deixou-se ficar deitado naquela relva seca e castanha. Estranho! Ele que estava a regar o relvado bem verde, acabado de cortar naquela manhã quando a luz e o barulho aconteceram.

Ficou quieto mais um tempo, de olhos fechados, a tentar entender o que se passara. Apenas os zumbidos nos ouvidos, as luzes cintilantes dentro dos olhos e uma crepitação leve do restolho, mais nada. Não ouviu vozes, nem ruídos estranhos, nem os sons da natureza.

Ainda se imaginou a acordar de um sonho, ou a ser protagonista de um filme ficção; na véspera tinha revisto pela quarta ou quinta vez os Encontros Imediatos de Terceiro Grau, quem sabe o ET não lhe ia aparecer. Mas não. Abriu os olhos, primeiro o esquerdo, com receio, depois o outro, surpreendido. Não havia qualquer OVNI, nem foguetão, nem nenhum ET.

A trovoada seca do fim de verão, ouvia-se agora mais longe. 

Ali deixara rasto, queimara o sobreiro quase secular, secou e acastanhou a relva acabada de regar, que só ficou verde no local onde tinha caído, deixando um desenho de corpo humano.

               

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