domingo, 9 de junho de 2013

SONHAR A VIDA


Calhou, hoje, andar a passear pela Serra da Arrábida, a percorrer e a olhar as suas paisagens únicas, a ver o mar azul, a relembrar Sebastião da Gama, a sua Joana Luísa, a sua Serra Mãe, a sua poesia e o seu Menino Grande: 

"Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...
Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho,
os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino,
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida!
não me venhas roubar o meu tesouro: 
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se eu riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso...
(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe..."


E foi, quando chegou ao fim da poesia, também no fim das voltas e dos caminhos que aquela Serra tem, que se deu conta que estava em Sesimbra, sentado na amurada junto ao Forte, a ver o mar sereno, quase azul, a beijar suavemente a areia em ondas pequenas, satisfeitas... As gaivotas, paradas no areal, faziam as vezes das pessoas, conversando umas com as outras aguardando, talvez, a chegada de um barco cheio de peixe, carregado de sardinhas...

(DO AUTOR - SESIMBRA, O MAR, A PRAIA, GAIVOTAS, EM TARDE TRANQUILA)
E ali se deixou ficar a olhar o mar, a sonhar a vida...

"Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos."

Sebastião da Gama - O Sonho.



7 comentários:

  1. Por isso, ele morreu tão cedo.
    Adorei!
    Ivone Oliveira

    ResponderEliminar
  2. Adorei! Tanto em tão poucas palavras.
    Es Mera

    ResponderEliminar
  3. Que "sonho" lindo!

    Sãozinha Melo

    ResponderEliminar
  4. Sonhemos a vida!
    Maria João Falcão

    ResponderEliminar
  5. Adorei!
    Que coisa mais linda!
    Como é sensível, meu amigo!
    Marion Mac Dowell

    ResponderEliminar
  6. Lindo, esse lugar! E o poema!...
    Vera Menna Barreto

    ResponderEliminar