segunda-feira, 25 de junho de 2012

SERRA DA ARRÁBIDA



"...


Na noite calma
a poesia da Serra adormecid
vem recolher-se em mim. 
E o combate magnífico da Cor, 
que eu vi de dia
e o casamento do cheiro a maresi
com o perfume agreste do alecrim; 
e os gritos mudos das rochas sequiosas que o Sol castig
—passam a dar-se em mim. 

E todo eu me alevanto e todo eu ardo. 
Chego a julgar a Arrábida por Mãe, 
quando não serei mais que seu bastardo. 

A minha alma sente-se beijad
pela poalha da hora do Sol-pôr 
sente-se a vida das seivas e a alegri
que faz cantar as aves na quebrada
e a solidão augusta que me fal
pela mata cerrada
aonde o ar no peito se me cala
desceu da Serra e concentrou-se em mim. 

E eu pressinto que a Noite, nesse instante, 
se vai ajoelhar... 

… … … … … … …. … … … … … … …
… … … … … … …. … … … … … … …


Ai não te cales, água murmurante! 
Ai não te cales, voz do Poeta errante!, 

- se não a Serra pode despertar."



Sebastião da Gama - Serra-Mãe.

(DO AUTOR - O CABO ESPICHEL,  A PONTA MAIS OCIDENTAL DA SERRA DA ARRÁBIDA NO SEU MERGULHO MARÍTIMO, O MERGULHÃO NO SEU VOO RASANTE E O CRISTO-REI, AO FUNDO, A ABRAÇAR O MUNDO)



4 comentários:

  1. A fotografia quase parece um desenho a carvão. Que serenidade, que paz... e eu que tanto preciso!
    Bj
    LM

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  2. Vou confessar uma coisa do meu provincianismo: Nunca fui ao Cabo Espichel, nem a Sesimbra... e olhe que já andei lá por perto, a deliciar-me com as tortas de Azeitão.
    Linda a foto, a transmitir mistério...
    Bjs
    Berta

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  3. Olá Raul
    Fotografia e texto lindos, parabéns muito bem escolhido, como sempre!
    Bjs
    Ana

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  4. A fotografia é um achado! O poema é lendo, claro. E triste.
    um beijinho

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