A velha senhora começava a manifestar sinais de fraqueza. Agora com um caminhar mais incerto, apesar de apoiado na imprescindível bengala, com mais dificuldade no subir o lanço de escadas que separam o quarto da sala e no querer ficar em casa e não sair à rua...
Mas a cabeça estava boa, sabia de tudo, lembrava-se das coisas passadas e das presentes, sabia dos dinheiros, das contas a pagar, das propriedades, lembrava-se de cor das receitas dos bolos...
Só o corpo é que começava a enfraquecer, a encurvar-se, a debilitar-se: às vezes era a perna que inchava, outras a visão que ficava turva, quando se faziam as análises lá vinha a anemia...
Que não lhe falassem em arranjar uma dama de companhia! Queria, enquanto pudesse, tratar da sua vida à sua maneira, a seu modo. Gostava muito da sua independência, de fazer o que lhe apetecesse sem a sombra de uma desconhecida a rondar-lhe a vida, a meter-se nas suas intimidades.
Mas perdia-se por uma boa conversa, por contar histórias, por recordar episódios de família, por saber desta ou daquele... Esquecia as horas, quase perdia a noção do tempo! Ainda por cima tinha bom ouvido, sabia escutar bem uma conversa e adorava uma boa companhia!
Mas que não lhe falassem em damas de companhia, daquelas chatas, ignorantes, quezilentas, pagas ao mês...
Isso nunca!
São os maus tratos do tempo. Mas nem todas as damas de companhia são ignorantes e chatas.
ResponderEliminarPaciência.
Beijos
Berta