domingo, 17 de junho de 2012

NÉVOA

O dia amanheceu cinzento, sem cor, silencioso, de uma humidade leitosa, transformando esta água toda, salgada e imensa, num mar imaterial e mágico, envolto num manto total de névoa doce e branda...

Ontem foi Lagos e o Dom Sebastião... Hoje a névoa a querer fazer cumprir a lenda, a imaginar o cavalo, alado e branco, a vir da ilha longínqua de ali ao lado, confundindo o Encoberto Rei com o Vizir de Odemira, e esperando a hora de voltar...
 
"Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!"

 Fernando Pessoa, in Mensagem: Terceira parte - O Encoberto



(DO AUTOR - AO LARGO DE SINES)

"Névoa... A manhã é névoa e o dia é este...
Que quero eu dele ou ele quer de mim?
Quero que a minha angústia nada ateste
De si, nem de quem quer um fim...


Quero que a manhã seja como é,
Porque o seria sem o eu querer;
E que eu tenha esse resto vil de fé
Que é ainda querer viver..."


Fernando Pessoa in, Poesia 1931 - 1935 e não datada, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva e outras, 2006.




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3 comentários:

Anónimo disse...

A lenda quase a misturar-se na realidade deste Portugal perdido no nevoeiro actual.
Bjs
LM

Anónimo disse...

Lindo, deve ter sido um espectáculo! Como consegue?
Beijos
Berta.

Carlota Pires Dacosta disse...

Gosto de nevoeiro, de névoa.
Quantos desejos imaginados...
Beijo